sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Crônica - Saudades dos velhos álbuns de fotografia





Lembro com uma certa dose de saudade dos velhos álbuns de fotografia. Aqueles que decoravam a mesinha de centro da sala e que eram mostrados às visitas. Faziam as vezes das revistas ou dos jornais para os curiosos entendiados que deveriam esperar por algo, mas, na maioria das vezes, eram janelas para um passado idealizado onde os sentimentos eram mais puros, as pessoas mais bondosas e a vida mais simples.

A fotografia guardada neles era uma fonte de preservação da memória. Um momento especial que queríamos guardar de todo jeito, como que estando ali, preso, ele nunca terminasse de fato. Em certas situações as fotos eram também provas de amor. Guardadas na carteira, sempre ao alcance dos dedos e dos olhos, numa época onde a comunicação era mais difícil e as palavras mais verdadeiras.

Não era qualquer um que tinha acesso a nossa vida, a nossa história pessoal. Hoje as fotos, como quase tudo, foram banalizadas. Não são mais um tesouro particular, não capturam a mágica de um momento feliz, não, esses dias passaram.

A maioria hoje registra de forma artificial a vida que quer aparentar ter. Sorrisos vazios, poses erotizadas, a certeza de enquadrar ao fundo o cenário onde se está para que os outros VEJAM que aquele sujeito esteve ali. O desejo de ser invejado, admirado, amado e odiado, tudo ao mesmo tempo. A carência sem limites dos filhos de uma sociedade que implodiu suas referências para consumir livremente de tudo. Pena que felicidade não esteja a vendo em doses homeopáticas.

Tenho saudades dos albúns de fotografias. Não, não dos albúns, tenho saudade mesmo do tempo em que éramos gente e não nos esforçávamos para nos tornar nossos perfis nas redes sociais.

Emerson Luiz

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