segunda-feira, 7 de outubro de 2013

COLUNA DE TERÇA - EU TENHO MEDO

“Eu tenho medo”. Foi a frase dita por Regina Duarte quando Lula enfrentou José Serra nas urnas rumo ao seu primeiro mandato como presidente do Brasil. A viúva Porcina tinha medo do governo do PT, afirmava que já conhecia o Serra, mas não conhecia o Lula. Eu sempre achei o comportamento dela motivo de piada. Era o medo de alguém que nunca foi discriminado, que não passou fome, que não teve de apanhar da polícia por conta da cor da pele ou trabalhar mais de oito horas por dia por um salário minguado. Era o medo de quem podia andar de avião, viajar para o exterior e frequentar shoppings quase que exclusivos.

O medo dela era o medo de muitos. O que Lula iria aprontar depois de eleito? O que seria do Brasil? Eu era adolescente e ri um bocado do medo da Regina Duarte. Votei em Lula como todos da minha família. Nós nos sentíamos representados por ele. Em suas palavras erradas pronunciadas com a voz potente da indignação de quem veio do outro lado, não teve acesso à educação formal, foi perseguido e sabia na pele o que os pobres sentiam. Só um pobre é capaz de olhar decentemente para outro. Lula nos olhava como quem pedia mais que um voto: “Me dê a chance de fazer desse país o nosso país”.

Nos meus vinte e poucos anos nada entendia de bastidores. O governo Lula foi marcado por escândalos de corrupção e o pessoal da Regina não gritou, rugiu! Mas aí Lula tinha iniciado o maior programa de distribuição de renda do Brasil, levado luz ao campo como antes dele só Arraes tentara, além disso os filhos dos empobrecidos tinham a chance de ingressar numa faculdade e a economia crescia a passos largos.

A gente, o povo, tinha voltado a acreditar no país. Tinha orgulho de ser brasileiro. O pessoal da Regina tinha medo, a gente não desistia nunca. A reeleição de Lula era inevitável por mais escândalos que pudessem ocorrer.

A economia mundial entrou em crise e o governo fez malabarismo para diminuir seus efeitos. O pobre comprou casa, viajou, viu seus filhos virarem médicos, engenheiros, advogados e se realizarem. E isso fez de Lula quase um profeta. Pilatos disse “eis o homem” ao entregar Jesus aos judeus. Lula mostrou a “mãe do Pac”.
O pessoal da Regina se refinou. Foi buscar inspiração lá atrás e quase transforma um movimento popular numa segunda Marcha da Família Com Deus pela Liberdade. Pôxa, aí eu tive medo. Na última eleição o Serra trouxe um debate religioso para a política. Quase que o pessoal vota em um conclave e não em candidatos a presidente! Agora o discurso vai ser o ódio ao PT.

Qual o perigo disso? Simples: não se debater um projeto de país. Onde ficam as propostas para educação, saúde, segurança pública, mobilidade, saneamento básico, moradia, reforma política e tributária? As mudanças vão atender aos interesses da população ou aquele não expresso pelos financiadores de campanha no horário eleitoral gratuito? O congresso está prestes a acabar com os direitos trabalhistas aprovando uma lei de terceirização do serviço. A globo comenta isso? A Regina? O Marcelo Madureira, o Danilo Gentili, o Lobão ou o pessoal do Porta dos Fundos? Claro que não! O ilusionista tem que nos fazer olhar para o outro lado para o truque dar certo.

Estamos prestes a assistir uma guerra televisiva entre nossos políticos. Eduardo Campos e Marina Silva vão se apresentar como o novo que você já conhece. Mas é preciso prestar bem atenção no projeto que será apresentado. Talvez seja a hora de alternar o poder no país. É o que se espera de uma democracia. Mas antes é preciso saber se é uma alternância ou o mesmo produto numa embalagem diferente.


Dessa vez eu tenho medo. Tudo que foi conquistado até aqui pode cair num castelo de cartas bem marcadas. A turma da Regina vem aí. O pior que não sei mais com quem a turma está.

Emerson Luiz


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