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Boa noite. Bem, devo dizer que é estranho atender a noite. Todos esses anos
como psicanalista é a primeira vez que um cliente fez questão desse horário.
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É que sou sensível a luz do sol. Onde me sento?
O
Doutor aponta para uma confortável poltrona.
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O senhor pode deitar no sofá, se quiser. Ele se apressa em dizer.
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Eu fico muito tempo deitado, sentado está bom, responde o cliente com uma voz
grave e muito calma enquanto senta-se.
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Então, o senhor é médico? Indaga o psicanalista.
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Não, não. Tenho muito apresso por anatomia e biologia, mas não sou médico não.
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Está aqui na sua ficha. A Sofia, minha secretária anotou. Dr. Cula. Achei até
que era um nome muito incomum.
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Não. O nome é Drácula. Sou um nobre de uma longa e antiga dinastia originada na
Bavária.
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Ah, Sofia da puta – o psicanalista fala quase num sussurro.
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É a primeira vez que venho num consultório desses. Por onde começo?
O
psicanalista começa a notar a pele pálida do paciente, as unhas grandes e os
olhos profundos. Pensa que o caso pode ser mais sério, que ele pode ter
transtornos graves.
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O senhor pensa que é vampiro? Dispara.
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Não diga isso! Não assim tão alto, eu tenho vergonha.
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Vergonha de pensar que é um vampiro? Acredite, já vi casos piores. Um dos meus
pacientes queria ser igual o Arnaldo Jabor.
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Eu sou um Vampiro – disse Drácula quase desabando na poltrona – mas hoje sinto
vergonha de assumir isso.
O
único som que podia ser ouvido era o do lápis sobre o bloco de folha nas mãos
do psicanalista.
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E quando isso começou?
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Com o filme crepúsculo. Eu gosto do cinema, sabe? A gente pode morder uns
pescoços no escuro e ninguém nota. As vezes até assisto os filmes. Quando vi o
cartaz pensei: ninguém vai achar estranho um cara que parece vampiro assistir
um filme desses. O senhor entende?
O
lápis continuava a percorrer o papel.
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Então... é pra continuar, não é?
O
psicanalista continuou em silêncio.
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Certo. Bem, fui ao cinema. Comecei a ver o filme e até tive vontade de morder o
pescoço da atriz que faz Bella. Aquele lance dela de manter as mesmas
expressões faciais para todas as emoções me fez lembrar de uma morta-viva que
namorei séculos atrás. Aí aparece o Edward. Vampiro andar de dia não é novidade,
o Wesley Snipes fez isso em Blade, mas vampiro de gibi não existe, todo mundo
sabe disso. O Edward não mordeu a menina, brilhava a luz do dia e o pior,
aparentava ter interesse no lobisomem! Doutor, nós, os vampiros, somos seres
que seduzem antes de se alimentar. Nos orgulhamos disso. Mas depois que aquele
cara disse: “Eu sou perigoso, Bella”, pronto! Viramos piada. Agora sempre que
mostro as presas as mulheres elas tem ataque de riso. Outras fazem pior: “Pensei
que tinha saído com um macho alfa, um homem sofisticado. Não curto esses lances
não” e vão embora. Eu era um garanhão, agora só tomo sangue de saquinho. O que
posso fazer? Tem algum remédio, algo que me dê coragem de me assumir como
Vampiro?
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Esse lance de se assumir é complicado. Você não pode ficar se prendendo por
aquilo que as pessoas vão achar. Você tem que se soltar, ser você.
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Mas é tão difícil.
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Ora, o senhor pode se espelhar em grandes exemplos. Veja o filme de Francis Ford
Copolla, veja o Nosferatu, a hora do espanto, leia os livros de Stephen King!
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Ok. Eu vou tentar.
O
psicanalista se levanta e aponta a porta.
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Seu tempo acabou. Mesma hora semana que vem.
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Certo. O conde levanta e enxuga as lágrimas.
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Só mais um coisa – diz o psicanalista – É melhor não assistir Diários de um
Vampiro.
Emerson
Luiz
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk eita resenha da peste kkkkkkkkkkkk gostei demais kkkkkkkkkkk
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