segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O EX-NAMORADO

Como toda boa mulher, Patrícia iniciou o processo de esquecimento de Hélio no dia em que terminaram o namoro. Não foi fácil. Quando saía com as amigas era só sorriso, nas festas estava sempre divina e poderosa, mas houve dias em que ouvir Ana Carolina era um tormento para o seu coração. Bombons consumidos vorazmente nas noites de tédio e horas e mais horas em redes sociais, mas depois de seis meses se sentia curada. Não sentia mais falta dele, do seu gosto por músicas, pelo seu porte, por sua mania de andar sempre transado, com jeans justos e camisas de grife, aquela sensibilidade, sua companhia constante até quando ela ia às compras! Onde haveria outro igual?

Mas agora Ana Carolina podia cantar até criar calos em suas maravilhosas pregas vocais que ela não ligaria. Perdera os quilos ganhos com o chocolate e vestia, orgulhosa, calças no tamanho 36! Naquele sábado ela foi ao shopping com as amigas, mas não ia mais comprar para suprir a carência, era consumismo mesmo.

E quando estava feliz e sorridente avistou Hélio saindo da Calvin Klein. Ele estava mais forte, o peito musculoso parecia querer saltar da camisa e os jeans justos davam ainda mais destaque as suas coxas. Triste daquele que pensasse que mulheres não observavam o corpo dos homens! Ele estava maravilhoso, então ela fez o que qualquer uma em seu lugar faria: fingiu ignorá-lo.

Suas amigas também fingiam olhar para as vitrines, mas desejavam que Patrícia não tivesse ido com elas, assim, quem sabe, poderiam disputar só entre elas por aquele Adônis. Mas se percebeu a intenção dela, Hélio não deu qualquer importância. Caminhou lentamente até ela.

_ Patty.
Era assim que só ele a chamava.
_ Oi. Se esforçou para ser fria ao responder.
_ Pensei tanto em você em dias. Nos nossos momentos e em tudo que vivemos.
_ Foi? O coração já batia acelerado, mas ela ia resistir. Eu mal lembrei de você.
_ Uma pena. Lembro de você no mar, linda como uma sereia. Nossa, parecia o nascimento da Vênus sempre que saía da água.
Ela mordeu o lábio inferior. As amigas seguiram andando, sem querer atrapalhar e Patrícia se viu sozinha. Vou resistir.
_ E de que mais você lembrou?
_ Do cheiro do seu perfume. Nunca perguntei o nome porque tinha medo de parecer bobo, mas aquilo tinha em mim um efeito animal.
Ela lembrava. Patrícia tinha aquele perfume como sua arma infalível. Hélio ficava louco com aquela fragrância e se incendiava.
Ele respirou fundo, como que tentasse farejar algo.
_ Você não o usa mais?
Como usaria? Para lembrar dos beijos, das mãos percorrendo seu corpo, dos dois engalfinhados como dois animais até que explodiam como estrelas?
_ Não mais.
_ Faria tudo para senti-lo de novo. Acho que qualquer homem que sentisse um perfume daquele. Concorda?
_ Acho que sim. Ela ia ser difícil.
_ Qualquer um teria vontade de rasgar suas roupas e cair no chão com você!
Patrícia agora sentia calor.
_ De sussurrar em seu ouvido, dizer o quanto te deseja e que quer ficar preso naquele momento por toda a vida!
_ Sim, sim! Ela já estava abraçada a ele.
_ Qual o nome do perfume?
_ Ah, Hélio, quanta saudade. Vamos sair daqui primeiro?
_ Não! Preciso saber, preciso muito saber! Aquela fragrância floral e doce, tão sensual, tão... Qual o nome do perfume?
_ 212 Sexy, da Carolina Herrera.
_ Claro! Disse ele se desvencilhando. Você o encontra nesse Shopping, não é?
_ Mas... você não quer senti-lo em mim?
_ Em você? Não meu anjo. Criatura, acorda, tá?
_ Mas como assim, Hélio? Eu pensei que sentia falta de nós.
_ Não querida. Eu sentia falta daquele cheiro. Se ele fazia alguém como eu ficar louco, o que vai fazer com o Paulão?
_ Paulão? Paulão o motorista do meu pai? Hélio, eu não acredito que você é gay!
_ Patty, amiga, aceita que dói menos. Eu vivia preso e foi graças a você que conheci o Paulão! Nunca vou te esquecer! Agora vou indo porque tenho que comprar aquele bendito perfume. A propósito, você emagreceu. Tá linda, um luxo! Bye.
E Patrícia ficou parada, refletindo sobre aquilo. Como um cara atencioso, sempre seguindo a última tendência, preocupado com o físico, amante das artes, que adorava ir às compras com ela podia ser gay? Ou melhor, como podia não ser gay? Ela não ia perder tempo com terapia por conta dele. Pegou o celular e ligou para um antigo conhecido.
_ Jorge? Sou eu, Patrícia. Isso, aquela que você conheceu no baile funk.
Ela precisava de algo para lavar a alma, e não seriam as compras.


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