Até
onde vai a busca pelo corpo perfeito? O personagem Paulo Cintura do saudoso
programa Escolinha do Professor Raimundo já
dizia que “saúde é o que interessa”. Ninguém pode negar que um corpo saudável e
bonito é uma coisa que todos desejam ter. Mas como sou do século passado (nasci
em 1983) não consigo compreender alguns padrões de beleza.
Quando
tinha doze anos ouvi garota de Ipanema
na casa de um amigo e me encantei. Veja que ouvir Tom Jobim quando todo mundo
gostava de sertanejo e lambada podia ser descrito como um ato de rebeldia, mas
não foi por isso que gostei da música. Gostei da figura cantada da mulher
bonita:
Olha
que coisa mais linda
Mais
cheia de graça
É
ela menina
Que
vem e que passa
No
doce balanço, a caminho do mar
Moça
do corpo dourado
Do
sol de Ipanema
O
seu balançado é mais que um poema
É
a coisa mais linda que eu já vi passar
Vinicius de Moraes já havia dito que beleza é fundamental, mas a beleza é
algo subjetivo, depende das nossas emoções, das nossas experiências. Deus
quando nos quis dar uma aula de beleza fez a mulher! Não quero ser machista,
jamais! Mas veja a infinidade de beleza que as mulheres exibem diariamente:
baixinhas, altas, gordinhas, magras, loiras, ruivas, morenas, todas com sua
beleza própria e singular.
Roberto Calos tem cantado a beleza
feminina por décadas. Implorado para que não
tirem os óculos, defendido que não é
preciso ser magra para ser formosa, o que importa para quem ama é
justamente o amor! A beleza física tem prazo de validade, por mais plásticas e
implantes que possam existir. Nós seres humanos somos um projeto com tempo de
duração definido: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos.
Hoje o mercado nos impele ao narcisismo,
ao amor pelo nosso reflexo. Nos empurra um modelo de beleza quase que inalcançável
para depois nos vender dietas ou antidepressivos caso o resultado buscado não
seja atingido. E muitas vezes descaracteriza quem o alcança. Veja a esposa do
belo, a Gracyanne (acho que se escreve assim). A moça começou como dançarina e belíssima
chamava mais atenção que as músicas da banda em que trabalhava. Gracyanne vinha
da onda das loiras e morenas do tcham que agora perderam lugar para as mulheres
frutas. O caso é que essa beleza não é a feminina, ou, pelo menos, a beleza com
que me acostumei, aquela que admiro.
Sou do tempo do namoro, da paquera, de
oferecer músicas, de ligar no dia seguinte, de querer sentimento mais que
corpo. Venho da geração que se encantava com o jeito de sorrir, com a troca de olhares
e de caminhar na rua de mão dada. Das mulheres femininas, lindamente femininas,
cheirosas como um jardim, misteriosas e com vozes que faziam tremer de inveja o
rouxinol.
Espero que a Gracyanne não lance moda.
Rezo para que as piriguetes sumam como as mulheres do tcham e que as frutas não
tenham sementes. E guardo a esperança que Tom, Vinicius, Chico e Roberto sejam
revisitados. Ter um corpo bonito é legal, mas quero terminar esse escrito
parafraseando o velho Vinicius: as que tem apenas um corpo bonito que me
perdoem, mas conteúdo é fundamental.
Emerson Luiz
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