sábado, 15 de fevereiro de 2014

CRÔNICA - HOJE TERMINA O HORÁRIO DE VERÃO



E o horário de verão termina hoje. A moça do jornal, naquele sorriso artificial de quem foi contratada para um comercial de creme dental fez questão de frisar isso. Acertem os seus relógios, meninos e meninas, porque a diferença de horário vai acabar. Quisera eu que ela tivesse anunciado o fim das diferenças econômicas, seria legal ser rico alguns meses do ano. Sim, ser rico. Ou você pensa que as pessoas pedem a igualdade social pensando em todos serem pobres?

Não existe jantar de graça, alguém sempre tem de pagar a conta. O ruim é que pouca gente se dá conta que tá pagando por algo que nunca vai comer. Escutam aquela piranha do jornal colocar a culpa nos impostos e pensam que quando ela fala em reduzir impostos quer dizer o mesmo que deixar de tratar a todos como filhos da puta. Dá vontade de rir. Quando um rico fala em reduzir alguma coisa pode saber, o pobre continuará sendo mais pobre, ganhando menos e se ferrando mais.
Não são os nossos impostos que ela quer reduzir, mas do seu patrão e de quem contrata os serviços dele. Televisão não é entretenimento, meu bem. É uma fábrica de idiotas.

Mas não esqueça que o horário de verão acaba hoje. O país economizou milhões com essa medida. Milhões que eu nunca sei para onde vão. Talvez para as passagens aéreas dos deputados e senadores, talvez para as diárias daquele juiz que foi dar uma palestra de 30 minutos em Londres, isso sim é exemplo de virtude. Pena que ele não perguntou se era justo eu pagar por isso, eles nunca perguntam.

O horário de verão está terminando. No Pará o corpo de um índio está imóvel no chão. Seu sangue rega o solo do Brasil que diz produzir e estar comprometido com levar comida para todas as mesas, menos às dos índios e trabalhadores rurais sem terra. A milícia paga para expulsar os índios de terras que pertenciam a eles não vai ajustar os relógios. Estão recolocando balas nos fuzis.
Em Pernambuco, jovens sob a guarda do estado são mortos em unidades que deveriam cuidar de sua ressocialização. A moça loira em outro jornal estimula pessoas a espancarem adolescentes e prendê-los a postes. Não contente diz que não somos civilizados e que estamos desarmados. Aplaude os ‘justiceiros’. Lembrei de um apresentador de tevê que teve o relógio roubado e pediu que o Rio de Janeiro tivesse um capitão Nascimento. 

O horário de verão está acabando, assim como nossa dignidade, nossa capacidade de raciocínio, organização e mobilização legítima. Nada mais choca, nem mesmo as mais anormais das atitudes. A moça com sorriso falso anuncia mais um protesto. Ela quer o fim desse governo. E muitos de nós, maquinalmente, balança suas cabeças vazias.

Sem nunca ler um livro criticamos o país com milhões de analfabetos funcionais. Sem atendimento médico apoiamos quem é contra a vinda de estrangeiros para áreas carentes, sem educação de qualidade concordamos com quem acha injusto o regime de cotas em universidades públicas. Sempre foi mais justo que os filhinhos de papai ocupassem todas as vagas. Para quê pobre com estudo? E assim o país vai seguindo, passo à passo, rumo a civilização da loirinha fascista.

Hoje termina o horário de verão.

EMERSON LUIZ

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