Ouvi de um amigo ontem: “Pensei que nunca veria isso de novo”.
Falávamos sobre a onde de protestos que se espalha pelo Brasil. Não nego que
ainda paira algo de estranho no ar. Talvez as nossas duas décadas de inércia
após o impeachment de Collor.
Talvez os nossos anos de silêncio fascinados pelo Plano Real
que estabilizou a economia ou pelo fascínio dos avanços sociais do populista
governo Lula.
Eu era criança na época dos caras pintadas e no interior do
Nordeste nós só vibramos, mas protestar que é bom...
Então hoje eu acordo e vejo um Brasil que também está
acordando.
Acordando longe da sombra dos partidos políticos que
insistem em querer politizar a vontade popular.
O movimento, ou os movimentos, não tem bandeira, ou melhor,
tem várias. Criticam um sistema de governo, uma classe política que há muito
não representa mais os anseios do povo, um sistema de leis defasado e um povo
que se cansou de sustentar o luxo de madames e sanguessugas.
A Primavera Brasileira ganha mais adeptos a cada dia. A
mídia tradicional não sabe como lidar com ela. Os políticos também não sabem,
na verdade, pelo seu ineditismo contemporâneo, ninguém sabe como reagir ao
gigante que se levanta.
Não é por 20 centavos. Não é só pelos gastos exorbitantes e
superfaturados das obras, não é só contra a corrupção, é por tudo isso e muito
mais.
Passei uma noite refletindo sobre esse momento histórico que
todos estão escrevendo.
E fiquei feliz por ver que não tenho como descrevê-lo ou explica-lo.
Daqui há dez anos, professores de história como eu estarão se debruçando sobre
ele e explicando aos mais jovens ou aos universitários como ele contribuiu para
melhorar o país.
O futuro começou.
Agora cabe a nós traçarmos seu caminho.
Até agora a maioria dos protestos foi pacífico. Que possam
continuar assim.
Partidos políticos não foram aceitos na manifestação. Que
continuem de fora, porque quando tiveram a chance de colaborar, nada fizeram!
Artistas do arrocha estão em silêncio. Ótimo. Que se calem
eternamente!
O governo quer negociar.
Perfeito! Que ele nunca esqueça que deve servir e não nos massacrar.
E nós enquanto povo nos erguemos. Que jamais voltemos a nos
ajoelhar.
Obrigado por abrir meus olhos de novo. Obrigado por me
mostrar que as utopias só são utopias enquanto nós não lutamos para realiza-las.
Obrigado Brasil!
Emerson Luiz
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