Passam das seis da noite e começo
a escrever este post. O que me motiva é a preparação para o ato público em
Venturosa, ou como chama alguns: o protesto em Venturosa. Deixo claro que não
estou entre os organizadores, não por discordar deles ou nada parecido. Mas
embora leve Venturosa em meu coração, não acho justo ser associado a um evento que infelizmente não poderei participar. Conter o ego é bom, assim como evitar se apropriar das ideias e projetos alheios. Creio que muitos
dos meus amigos que se julgam articuladores deviam tentar de vez em quando.
Mas quero escrever esse post em
meu ofício de historiador. O Brasil vive a euforia de redescobrir a força das
manifestações populares, do encantamento com a possibilidade de tomar de volta
os rumos da sua história e de participar das decisões que afetam toda a
sociedade. Vê-se claramente que o sentimento de acomodação que rotulava a
juventude dessa época não se faz presente como muitos sentenciavam. “A gente
saiu do facebook” declara um dos inúmeros manifestantes do Movimento Passe
Livre, que primeiro conclamou o povo às ruas.
A truculência da Polícia Militar
de São Paulo, sob as ordens do governador Geraldo Alckmin provocaram a comoção
geral que fez “acordar o gigante”. Só que assim como quem acorda de um longo
sono, o gigante precisa se situar. O movimento é apartidário (sem partido) ou
anti partidário (contra determinado partido)? Defende a causa gay? É contra
corrupção? Contra todo o tipo de corrupção e desvio ético? Sim, porque roubar
internet do vizinho, furar fila, tentar dar um “jeitinho” também são atos
corruptos. O gigante acordou mas precisa abrir bem os olhos. Vândalos se
infiltraram nos movimentos e começam a despertar rejeição em parte da
população, a fundamentar a violência policial e a legitimar maior rigor das
autoridades. Ou seja, corre-se o risco de perder o momento por não saber
aproveitá-lo.
Arcoverde, Caruaru, Garanhuns e
Pesqueira realizaram atos de protesto. Sem uma bandeira central vários setores
levantaram as suas: belíssimo e louvável. E agora Venturosa se prepara para
fazer o mesmo, mas pergunto: Realmente se prepara para fazer o mesmo? Os
questionamentos feitos até então são sobre os gastos excessivos com a copa, o
descaso com a saúde, educação e contra a corrupção a nível nacional. Fala-se do
geral para depois pensar no local. Em Arcoverde partidários da prefeita
Madalena foram censurados por tentarem colocar na passeata cartazes em apoio a
sua gestão para que o ato não fosse confundido com apologia ao seu governo. E
vejam, Madalena tem aprovação da maioria da população de Arcoverde.
Mas como realizar um movimento
apartidário numa cidade como Venturosa? Não quero menosprezar o município que
tanto amo, jamais! Mas em Venturosa (infelizmente) tudo é visto como um ato
partidário. Sim, partidário e não político. Quisera eu que fosse um ato
político no que a palavra tem de melhor, mas não, a maioria dos eventos ganha
essa conotação de cor, de grupo, de situação ou oposição.
Então antes que se inicie um
protesto em Venturosa é bom refletir qual é o seu real objetivo.
É justo cobrar melhor atendimento
médico, transparência com os gastos públicos, maiores investimentos em saúde?
Sim.
É correto usar da comoção popular
e do sentimento das massas para tentar “queimar o filme” do prefeito eleito?
Não.
Serão permitidas faixas que
elogiem diretamente o executivo municipal? Se não, também devem ser proibidas
faixas que o ataquem. É uma questão delicada essa e que deve ser bem pensada. Os atos pertencem ao povo e não devem servir a interesses individuais.
O movimento pede o fim da
corrupção, então se forem citar nomes de pessoas que são julgadas corruptas
pela população não esqueçam os que encorpam o PT, o PSB, o PDT, o DEM, o PR, o
PSDB, o PMDB e todas as outras siglas conhecidas na cidade. Afinal, existe
partido honesto? Claro que não, toda instituição humana contará com pessoas
honestas e desonestas. Sempre achei que tem algo a ver com a parábola do joio e
do trigo.
Estamos em um país democrático e devemos respeitar suas leis. Assim como sou contra o movimento #fora Dilma serei contra qualquer #fora contra qualquer pessoa. O lugar do #fora é na urna e como a democracia se fundamenta na escolha da maioria, deve-se respeitar essa vontade soberana.
Essa semana me deparei com uma
sugestão muito interessante vinda de uma jovem. Haverá uma roda de conversa no
dia 30 de junho aberta a jovens, universitários, professores e população em
geral sobre essa onda de protestos. A voz sensata da juventude sugeriu que o
protesto fosse decidido após a participação nessa roda de conversa, depois de
todos os prós e contras serem ouvidos e debatidos. Caso pudesse opinar
concordaria com ela.
Venturosa se organiza para seu
protesto, mas antes de sair às ruas é bom responder as seguintes perguntas:
Protestar contra o quê e porquê?
Emerson Luiz
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