Nas "guerras heroicas", se é que houve alguma guerra desse tipo, onde as vitórias eram decididas pelos combatentes que se enfrentavam corpo-a-corpo nos campos sob ordens de generais estrategistas, o soldado "bucha de canhão" era aquele colocado na frente da linha dos canhões para tomar tiros enquanto as tropas se posicionavam para o verdadeiro combate e os canhões destroçavam as linhas inimigas.
A expressão passou a designar qualquer atividade onde o seu executor está condenado a sofrer duras consequências ou ao amargo fracasso. Geralmente, quem se ferra é chamado de "bucha de canhão".
É o papel que poderá ser exercido pelo ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Eduardo Campos era um dos melhores quadros do PSB até pouco tempo atrás, talvez ainda seja. Foi ministro de Lula, governador de Pernambuco por oito anos, usou de toda sua inteligência para dilapidar a oposição no estado que governou atraindo para o seu ninho pombas e serpentes, progressistas e coronéis e sem uma oposição de verdade foi reeleito com mais de 80% dos votos válidos.
Tudo isso o gabaritava para voos mais altos. A mídia nativa, com fortes patrocínios do seu governo, raramente questionou suas ações ou divulgou notícias que não lhe fossem favoráveis, mesmo estas existindo fartamente.
Eduardo Campos foi picado pela mosca azul. Seria o candidato nato em 2018 pela proximidade com Lula e a falta de renovação nos quadros do PT. O desgaste natural do Partido dos Trabalhadores também o conduziria a esse status presidenciável, mas Campos julgou que agora era a hora.
Rompeu com o governo que integrou e defendeu por quase dez anos e de aliado se transformou em opositor. Num primeiro momento foi ovacionado pela mídia tradicional. Convidado para vários programas de entrevistas e numa jogada de mestre trouxe para o seu partido a ex-ministra Marina Silva.
O enxadrista político chamado Eduardo Campos embarcou no discurso da nova política e dos tempos de mudança, nos novos ventos que sopravam no Brasil contra um pacto mofado que seria o governo do PT.
Semelhante ao pacto de não agressão entre Alemanha e União Soviética, Campos e Aécio firmaram acordo de cooperação em alguns estados e elegeram como adversário comum o PT. Eduardo achou que sua bela figura, os protestos populares manipulados pela elite e a crise econômica mundial resultariam no quadro perfeito para guiá-lo ao Palácio do Planalto.
Mas o candidato da mídia e das elites não é Campos.
O candidato dos Marinho é Aécio Neves. É ele o rei do tabuleiro.
Tão logo Eduardo ultrapassou a casa dos 10 pontos nas pesquisas eleitorais os editoriais dos grandes jornais, colunistas e blogs de grandes portais de comunicação passaram a criticá-lo e a questionar suas alianças estaduais. O segundo turno que agora se desenha não deve ser disputado por Eduardo Campos. Num segundo turno a mídia e as famílias mais ricas desse país investirá todas as suas fichas em Aécio Neves, o candidato do agronegócio, que defende a desindexação do reajuste do salário mínimo, autonomia do Banco Central e é amigo do capital estrangeiro. Quem é melhor que o PSDB para entregar o patrimônio nacional com incentivos do próprio BNDES?
Eduardo foi escolhido para dividir o voto da esquerda e provocar um segundo turno.
Talvez ele consiga reverter essa situação. Já fez isso antes quando disputou sua primeira eleição para governador, mas se ele era o maior peixe do aquário, agora deve ter consciência que está num mar de tubarões.
Essa eleição pode transformar o grande enxadrista pernambucano num mero peão de tabuleiro, ou, como disse, numa bucha de canhão.
Emerson Luiz
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