terça-feira, 23 de julho de 2013

Entre a humildade de Francisco e a arrogância de Barbosa




Um vento de renovação e de resgate de espiritualidade soprou pelo Vaticano no último conclave, a eleição do novo papa. O mundo assistia a algo impensável: a renúncia de um papa e a eleição de um sumo pontífice latino americano. Em seu primeiro pronunciamento como Francisco, o argentino Jorge Maria Bergoglio, referiu-se a ele mesmo como vindo "lá do fim do mundo".

Seu nome papal foi escolhido para fazer referência a Francisco de Assis, o poverello, por sua simplicidade e dedicação aos pobres. E todos os seus atos até agora têm demonstrado essa opção evangélica. O papa Francisco quebra protocolos, dispensa honrarias e luxos e é - o mais próximo que sua posição permite - próximo de todos. Um papa carismático e humilde, atento aos apelos das massas e com um discurso que volta as fontes da fé.

Sua visita ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude também traz um novo fôlego à Igreja Católica. Como todo papa é também chefe de Estado - o Vaticano é um país - é recebido por chefes de Estado e autoridades constituídas. E nesse encontro entre o sagrado e o profano vemos a atitude evangélica da humildade e a plenitude da prepotência que Joaquim Barbosa representou diante não apenas de uma nação, mas do mundo todo.

Joaquim Barbosa deveria ser um espelho para milhões de brasileiros. De origem pobre e humilde, negro num país repleto de preconceitos explícitos e velados, galgou por mérito próprio e vaidade de Lula (o ex-presidente queria ser o primeiro a nomear um juiz negro para o STJ) um dos mais altos cargos do país: Ministro do Supremo Tribunal Federal. 

Por um tempo Joaquim foi o símbolo da capacidade própria, da ética e da justiça. Combateu a corrupção e condenou os mensaleiros. Seus erros de julgamento foram omitidos pela mídia, sua parcialidade também. Num país que nunca viu políticos pagando por seus erros, Joaquim Barbosa foi alçado ao posto de herói nacional e rapidamente tornou-se presidenciável da extrema-direita e de uma parcela mais emotiva da população.

Então sua verdadeira face começa a aparecer. O que critica em outros são práticas banais para ele. A parte livre da imprensa divulga fundação de empresa para compra de apartamentos no exterior, recebimento por aulas não dadas em instituições de ensino superior, uso questionável de aviões pagos com erários públicos para uso pessoal e carona a jornalistas para conceder entrevistas. 

O menino pobre que se tornou ministro esqueceu que há mais do que a toga que veste.

Francisco abraçou a humildade, Barbosa a prepotência. Francisco despiu-se do luxo para ensinar ao mundo que poder e riqueza são ilusões que afastam de Deus. Barbosa talvez nem creia que Deus exista, mas isso é direito de cada um.

Na reunião com autoridades, cumprindo o protocolo, o Papa e a presidente Dilma recebiam os cumprimentos dos presentes. A autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano e a chefe do Estado brasileiro. Os dois representavam o povo do Brasil. Um eleito pelos cardeais, a outra eleita pela maioria do povo.

Barbosa cumprimentou o papa e ignorou Dilma. Seus assessores justificam a quase inexplicável brutalidade do ato: "eles já haviam conversado". Barbosa não ignorou Dilma por lapso, foi um ato muito bem pensado. Quis posar de defensor do reto, do que não se curva ao governo que julga sumariamente como corrupto, do herói do povo. Quis posar. Joaquim Barbosa, no auge da prepotência, quebrou todos os protocolos de política, civilidade e educação. Ao cumprimentar o papa Francisco e se recusar a fazer o mesmo com Dilma ele mostrou seu desprezo pela pessoa, pela mulher e pela autoridade que ela representa. Numa ocasião como essa até adversários se cumprimentam por tudo que seus atos podem representar para as pessoas. 

Lembro de uma frase que ouvi certa vez em um Fórum: "Alguns promotores pensam que são Deus". "E os juízes?" Perguntei. "Ah, os juízes têm certeza que são". Encerro este post quebrando o protocolo, pois as palavras finais não são minhas, mas de um grande professor que tive, Eraldo Galindo da Silva: "Arrogância, presunção e falta de refinamento atitudinal do Joaquim, o oposto do Papa Francisco."

Emerson Luiz

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