Obrigado pelo comentário.

A internet me proporcionou um encontro inesperado. O amigo Joédson, historiador formado pela USP, filho de Venturosa e que começou a acompanhar este blog. Só o fato de saber que o blog foi visto tão longe meu coração se encheu de alegria.

O primeiro e-mail que recebi dele me deu incentivos para continuar com esse trabalho. O segundo traduz o sentimento não apenas dele, mas de muitos. Então, com a devida permissão do autor, reproduzo o e-mail que recebi do amigo historiador Joédson Almeida.

Olá Emerson

Tive uma surpresa ao ver em seu blog a foto de Paulo Tenório junto com Donizete, Lemos e compania. Não é normal ver um vice-prefeito ao lado dos opositores. Notícias vindas da Terrinha dão conta de que muitos perderão seus empregos nos próximos dias por terem "virado a casaca" como se diz por aí. Não sei se tal informação procede. 

Tenho orgulho de Venturosa e faço questão de falar isso para todos. Recentemente estive em Venturosa e como sempre todos falam bem da cidade, de seu crescimento/desenvolvimento. Isso é um fato,não se deve negar que a cidade tem crescido, entretanto, percebi que problemas antigos persistem. Por exemplo, a prefeitura ainda é o principal empregador, muita gente recebe salários do município sem trabalhar, etc. Mas em momento algum há incentivos e investimento para a ampliação na oferta de trabalho, ou seja, condições para a implantação de empresas e tudo mais. A Ingazeira tem água e muitas ruas na cidade estão sem. Coisas desse tipo. Parece-me que nem a situação e nem a oposição tem um projeto claro a respeito desses problemas. 

A cultura do favorzinho ainda persiste, tudo isso em troca do voto e do apoio político. Tipo assim: Senhor prefeito você me arruma um emprego e tem o meu apoio e de minha família. Isso precisa mudar. O governo é para todos e não para aqueles do partido A ou B, até parece o conflito entre católicos e protestante da Irlanda do Norte, apesar de não haver luta armada. Não podemos aceitar.

A educação, graças a competência de alguns, tem sido ao que me parece o diferencial em Venturosa, pois felizmente o Quitéria tem conseguido bons resultados e proporcionado condições para que muitos como eu, você, etc., alcancem ascensão social. É claro que há muito por fazer. Por outro lado, desconheço a existencia de qualquer projeto na esfera municipal capaz de garantir e fornecer qualificação profissional para os jovens. Algo como cursos de informática, de administração, ligado a agricultura, a pecuária que é o forte da região. Não sei se esses temas entram na proposta de governo dos candidatos.

Muitos falam muito bem da cidade e tudo mais, entretanto, assim como foi no meu caso, muitos jovens continuam deixando seus lares em busca de oportunidades em regiões distante de sua Terra Natal, isso é uma evidência de que há um problema que a longo tempo precisa ser corrigido. Tenho ciência de que Venturosa está ligada ao capitalismo internacional e que por isso tem suas limitações orçamentarias e tudo mais. Mas em vez de gastar enormes quantias com festas como por exemplo, seria interessante, instalar dessalinizadores em várias regiões para amenizar o problema da estiagem e da falta de água potável. Investir em cursos que possam aprimorar os conhecimentos técnicos da pecuária, agricultura, etc.

Nessa minha recente visita, comprovei que a cidade cresceu, porém é um crescimento desordenado, parece não haver um plano diretor para a cidade que divida sua regiões por tido de atividade, se residencial, se comercial, etc.. Muitos constroem da forma que querem e como querem. Não há um padrão. Por exemplo, casas não tem recuo na frente, não tem corredor lateral, não tem garagem, não tem recuo nos fundos. As ruas não obedem uma largura mínima. É certo que isso não é um problema só de Venturosa e sim da maioria das cidades do Brasil. Ao meu ver é para isso que serve o governo, este deve administrar tudo isso de modo a garantir a qualidade de vida da população e o crescimento sustentável e ordenado da cidade. 

Em relação a cultura, até onde sei nada tem sido feito. Não há um teatro na cidade nem eventos culturais que proporcionem o acesso ao conhecimento de outras formas de entretendimento. Não há shows de artistas populares. Muitos na cidade sequer conhecem Chico Science, Nação Zumbi, Cordel do Fogo Encantado, etc., Mas quase todos conhecem Saia Rodada, Aviões do Forró, Moleca Safaca, etc. Coisas desse tipo. Poderia se criar um festival de Teatro, feiras literárias, Virada Cultura, etc.. Oficinas de músicas, de teatro, etc. Isso não me parece nem passar pela cabeça dos candidatos a prefeito. Não quero dizer que todos devem gostar dos artistas mencionados, mas devem conhecer outras opções além daquelas voltadas para o consumo ou a indústria cultural as quais se transformaram em um espécie de material descartável que não incentivam a reflexão do mundo a sua volta como é o caso dos artistas mencionados. tudo isso é uma pena.

Por último, queria dizer que nesse momento me lembrei de um livro muito legal de um historiador chamado Mike Daves, denominado "Holocaustos Coloniais: Clima, fome e imperialismo na formação do Terceiro Mundo". Nessa obra o autor, fala dos últimos 25 anos da era vitoriana, precisamente entre 1876 e 1901, período em que terríveis secas, associadas ao fenômeno El Ninõ, atingiram a Ásia, o Norte da África e América Latina. Essas secas não somente provocaram devastação e epidemias nas regiões atingidas como também resultaram na morte de aproximadamente 50 milhões de pessoas, mortes estas associadas a miséria, a fome e as doenças, por isso o uso do termo “holocaustos”. Por isso, no meu entender, todo o bom político das regiões secas do nordeste deveriam lê-lo, porque ele deixa claro que o problema dessa região tem muito mais a ver com a política e com a forma de governo do que com o problemas climáticos como estamos acostumados a ouvir falar.

É isso,

Abraços

Joédson