UMA CIDADE SEM ÁGUA
O Drama humano.
Ao longo da história da
humanidade podemos perceber que o recurso natural mais importante para o
florescimento das civilizações, nascimento das grandes cidades e manutenção da
vida humana é a água. Hoje assistimos a uma crise hídrica que atinge várias
regiões do mundo. Períodos de longas estiagens, secas arrasadoras, têm atingido
regiões tão diferentes como o Nordeste brasileiro e o Sudeste. Não foi apenas a
barragem da Ingazeira, principal reservatório de água de Venturosa, que secou:
o sistema Cantareira também!
Além do processo climático há
algo em comum nos dois casos. Há muito as cidades não se preparam para o
aumento de sua população, não investem o que deveriam para ampliação da capitação
de água e do seu armazenamento e sua população, ao longo das últimas décadas,
desprezaram a preservação do seu meio ambiente.
O crescimento da cidade de
Venturosa não foi planejado nem ocorreu de forma organizada. Com o aumento populacional
e a necessidade de ampliar atividades econômicas, as margens dos nossos rios
(todos temporários) foram desmatadas para o cultivo de gêneros agrícolas.
Muitas cacimbas perderam sua cobertura vegetal nativa, as matas de caatinga
foram derrubadas para dar lugar ao pasto ou ao plantio de culturas como a do milho e a do feijão. Na
área urbana os esgotos foram direcionados para o curso dos rios que cortam a cidade, como o Ipanema, o rio dos Bois e o riacho do Campo Grande, que, quando nas épocas de suas cheias, levam os detritos até a barragem da Ingazeira. O açude localizado no
centro da cidade foi totalmente poluído pelos dejetos e mesmo quando voltar a
sua capacidade não poderá fornecer água.
É hora da população de Venturosa
começar a pensar na forma como está se desenvolvendo.
O IMPÉRIO DOS PIPAS
Hoje o abastecimento de água se
dá por meio de carros pipas. As reclamações são inúmeras. Existe o ônus
financeiro que tem massacrado muitas famílias. O abastecimento de carros
cadastrados a Compesa não é suficiente e muitos precisam comprar água a
terceiros. Quanto mais longe está a água, mais caro se torna. Há semanas onde
uma pessoa é obrigada a esperar mais de 24 horas para conseguir abastecer sua
cisterna ou tanque. As chuvas do dia 30 de dezembro não atingiram todas as
áreas do município e não foram suficientes para afastar o fantasma da seca.
A barragem próxima ao parque de
exposições foi ampliada e captou muita água, mas sua capacidade não é
suficiente para abastecer a área urbana e não há qualquer encanamento para
isso. A água está lá e para chegar até os moradores necessita ser transportada
por caminhões pipas.
A TRANSPOSIÇÃO É A SOLUÇÃO?
A população encara com
desconfiança a obra da transposição das águas do Rio São Francisco. Primeiro
vem a percepção de que os governos sempre são omissos com as populações mais
carentes, de que recursos podem ter sido desviados e que a água pode não chegar
até a cidade. Depois o questionamento se foi sábio por parte da companhia
estadual retirar os canos da barragem da Ingazeira. Mesmo que ela volte
virtualmente a sua plena capacidade suas águas não mais serão utilizadas no
abastecimento urbano, destinando-se unicamente a irrigação e ao uso por membros
da colônia de pescadores e habitantes daquela localidade. O que ocorrerá caso o
sistema de transposição entre em colapso?
É PRECISO MUDAR
Há um ditado indiano muito
pertinente para essa situação: “Só percebemos o valor da água quando a fonte
seca”. Ou criamos novos hábitos, revitalizamos as margens dos rios,
reflorestamos as áreas onde antes se encontravam poços e cacimbas ou
assistiremos um processo de desertificação cada vez mais presente no local onde
vivemos. Construir novas barragens, transpor água de locais distantes, tudo
isso é pensado para melhorar a vida das pessoas, mas são medidas que tratam os
sintomas do problema, não suas causas.
Sempre culpamos a incapacidade ou
falta de interesse de governos, mas raramente reconhecemos a nossa
responsabilidade enquanto sociedade no drama que se abate sobre nós. Podemos e
devemos cobrar de nossos representantes as ações necessárias, mas se elas não
forem acompanhadas de novas formas de convivência com o semiárido estaremos
apenas retardando a catástrofe.
Emerson Luiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informando com responsabilidade. Numa democracia é importante poder debater notícia e ter opinião!