quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ESPECIAL - VENTUROSA: O drama de uma cidade sem água

UMA CIDADE SEM ÁGUA


O Drama humano.

Ao longo da história da humanidade podemos perceber que o recurso natural mais importante para o florescimento das civilizações, nascimento das grandes cidades e manutenção da vida humana é a água. Hoje assistimos a uma crise hídrica que atinge várias regiões do mundo. Períodos de longas estiagens, secas arrasadoras, têm atingido regiões tão diferentes como o Nordeste brasileiro e o Sudeste. Não foi apenas a barragem da Ingazeira, principal reservatório de água de Venturosa, que secou: o sistema Cantareira também!

Além do processo climático há algo em comum nos dois casos. Há muito as cidades não se preparam para o aumento de sua população, não investem o que deveriam para ampliação da capitação de água e do seu armazenamento e sua população, ao longo das últimas décadas, desprezaram a preservação do seu meio ambiente.

O crescimento da cidade de Venturosa não foi planejado nem ocorreu de forma organizada. Com o aumento populacional e a necessidade de ampliar atividades econômicas, as margens dos nossos rios (todos temporários) foram desmatadas para o cultivo de gêneros agrícolas. Muitas cacimbas perderam sua cobertura vegetal nativa, as matas de caatinga foram derrubadas para dar lugar ao pasto ou ao plantio de culturas como a do milho e a do feijão. Na área urbana os esgotos foram direcionados para o curso dos rios que cortam a cidade, como o Ipanema, o rio dos Bois e o riacho do Campo Grande, que, quando nas épocas de suas cheias, levam os detritos até a barragem da Ingazeira. O açude localizado no centro da cidade foi totalmente poluído pelos dejetos e mesmo quando voltar a sua capacidade não poderá fornecer água.

É hora da população de Venturosa começar a pensar na forma como está se desenvolvendo.

O IMPÉRIO DOS PIPAS

Hoje o abastecimento de água se dá por meio de carros pipas. As reclamações são inúmeras. Existe o ônus financeiro que tem massacrado muitas famílias. O abastecimento de carros cadastrados a Compesa não é suficiente e muitos precisam comprar água a terceiros. Quanto mais longe está a água, mais caro se torna. Há semanas onde uma pessoa é obrigada a esperar mais de 24 horas para conseguir abastecer sua cisterna ou tanque. As chuvas do dia 30 de dezembro não atingiram todas as áreas do município e não foram suficientes para afastar o fantasma da seca.

A barragem próxima ao parque de exposições foi ampliada e captou muita água, mas sua capacidade não é suficiente para abastecer a área urbana e não há qualquer encanamento para isso. A água está lá e para chegar até os moradores necessita ser transportada por caminhões pipas.


A TRANSPOSIÇÃO É A SOLUÇÃO?

A população encara com desconfiança a obra da transposição das águas do Rio São Francisco. Primeiro vem a percepção de que os governos sempre são omissos com as populações mais carentes, de que recursos podem ter sido desviados e que a água pode não chegar até a cidade. Depois o questionamento se foi sábio por parte da companhia estadual retirar os canos da barragem da Ingazeira. Mesmo que ela volte virtualmente a sua plena capacidade suas águas não mais serão utilizadas no abastecimento urbano, destinando-se unicamente a irrigação e ao uso por membros da colônia de pescadores e habitantes daquela localidade. O que ocorrerá caso o sistema de transposição entre em colapso?

É PRECISO MUDAR

Há um ditado indiano muito pertinente para essa situação: “Só percebemos o valor da água quando a fonte seca”. Ou criamos novos hábitos, revitalizamos as margens dos rios, reflorestamos as áreas onde antes se encontravam poços e cacimbas ou assistiremos um processo de desertificação cada vez mais presente no local onde vivemos. Construir novas barragens, transpor água de locais distantes, tudo isso é pensado para melhorar a vida das pessoas, mas são medidas que tratam os sintomas do problema, não suas causas.

Sempre culpamos a incapacidade ou falta de interesse de governos, mas raramente reconhecemos a nossa responsabilidade enquanto sociedade no drama que se abate sobre nós. Podemos e devemos cobrar de nossos representantes as ações necessárias, mas se elas não forem acompanhadas de novas formas de convivência com o semiárido estaremos apenas retardando a catástrofe.


Emerson Luiz

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Informando com responsabilidade. Numa democracia é importante poder debater notícia e ter opinião!