quinta-feira, 26 de abril de 2012

Artigo de Opinião - Romáryo Almeida Cavalcanti

É com grande alegria que publico este artigo de opinião do grande amigo Romáryo Almeida Cavalcanti. Na verdade eu pedi para que ele escrevesse para o blog (acabei  sugerindo o tema) . O jovem Romáryo nos brinda com esta bela peça e eu só tenho duas coisas a dizer: obrigado pela colaboração e boa leitura!

A DECADÊNCIA DA MÚSICA BRASILEIRA


Ao ser convidado a escrever algo para este blog, pelo meu ex-professor e amigo Emerson (por quem mais seria, senão pelo único dono do site?), pensei de cara, não ser capaz, porém em uma segunda reflexão conclui, de fato, não sê-lo. Bom mas mesmo assim estamos aqui. Sobre o que falar? Que tal a decadência da música brasileira? Ele me sugeriu. Comecei a refletir sobre tais palavras, sempre brincamos (todos brincamos) dizendo que a música brasileira encontra-se em um estado de decadência exponencial, mas nunca tinha parado pra refletir sobre o fato, afinal nos lugares onde o meu direito é absoluto escuto apenas o que me agrada, e em lugares “públicos” aprendi a não me incomodar mais com o estilo musical que nos impõem os proprietários de carros aspirantes a trios elétricos.

Mas enfim, a música brasileira encontra-se mesmo em decadência?

Partindo da máxima que a música é uma arte atemporal no sentido de uma música dos anos 50 pode ser ouvida da mesma forma que uma música de hoje, mas atenção, digo ouvida no sentido que ela está disponível para ser tocada a qualquer momento, ou seja, pode ser ouvida da mesma forma que uma música de hoje, mas não escutada da mesma forma, afinal o contexto em que ela foi criada era outro e é aí onde acho que está a sutil linha da decadência, no limiar entre o ouvir e o escutar, nós somos a geração pós fast-food, tudo pra nós tem que ser instantâneo. Lembro-me da época em que ouvir música era uma atividade semelhante a ler um livro, nós parávamos pra colocar o disco na vitrola, ou a fita no toca fitas, ou o CD no CD player (e graças aos deuses eu pude aproveitar cada uma dessas fases), e depois de feito isso nós parávamos e escutávamos todo o disco, como num ritual, não existiam atividades paralelas. Hoje esta atividade está quase morta, todos amamos música mas não nos damos a ela, não a respeitamos, apenas pegamos todos os mp3 que possuímos jogamos no media player, marcamos o aleatório e vamos bater papo, fazer seja o que for ouvindo música, porque amamos música, mas não reparamos que a colocamos em segundo plano, não escutamos mais um álbum completo, do começo ao fim, ora, isto é  o mesmo que começar um livro pelo meio, ir pro fim e só então ler o começo, mas pior ainda, ouvimos as músicas mais não a escutamos, pois como já foi dito ela se tornou uma atividade secundária, e é exatamente aí onde entra a possível decadência musical, é aí onde entram os oportunistas que fazem músicas para serem ouvidas e não para serem escutadas, por isso vemos tantas canções vazias onde a melodia e a letra encontram-se travando uma batalha de superficialidade em que não existe sincronia se quer entre elas, ambas são obras distintas estão juntas em uma música por pura conveniência. Mas por que então se elas não dizem nada, são superficiais fazem tato sucesso? Hora justamente porque elas cumprem o propósito delas, você prefere a canja de galinha caprichada da sua avó ou a coxinha requentada da escola onde você estuda? Mas na pressa vai a coxinha mesmo. É assim que tratamos a música hoje em dia e você agora, lendo este texto pode parar um pouco e refletir sobre o seguinte:





Quando eu acordar, quero enxergar teus olhos
Outra vez, sem pensar, deixar tudo, tudo, tudo pra depois.
Chance de viver sem se arrepender mais.
Tudo o que passou vou deixar pra trás, pois
É só com você que eu quero viver.
Vou fazer valer. Vou fazer valer.
Já te disse que quero viver todos
Os meus sonhos junto com você?
Quando tudo isso acabar,
Ao teu lado eu quero estar.
Quando eu acordar, quero enxergar teus olhos
Outra vez sem pensar, deixar tudo, tudo, tudo pra depois.
Chance de viver sem se arrepender mais.
Tudo o que passou vou deixar pra trás, pois
É só com você que eu quero viver.
Vou fazer valer. Vou fazer valer.
Uô, ô, ô, ô ...
.-------------------------------------
Quando o navio finalmente alcançar a terra

E o mastro da nossa bandeira se enterrar no chão
Eu vou poder pegar em sua mão
Falar de coisas que eu não disse ainda não

Coisas do coração!

Coisas do coração!

Quando a gente se tornar rima perfeita

E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais

Paixão e nada mais!

Paixão e nada mais!

Somos a resposta exata do que a gente perguntou

Entregues num abraço que sufoca o próprio amor
Cada um de nós é o resultado da união
De duas mãos coladas numa mesma oração!

Coisas do coração!

Coisas do coração!

À esquerda está a música Ao Teu Lado do Restart, à direita está a música Coisas do Coração de Raul Seixas.
Agora eu pergunto:
Se cada uma fosse uma carta, qual você gostaria de ver entrar pela brecha de sua porta?

2 comentários:

  1. Gostei muito da reflexão de nosso amigo Romário, principalmente quando ele fala que a música deixou de virar uma atividade primária e passou a ser secundária, felizmente nunca deixei a música ser secundária na minha vida, pelo contrário, é a coisa mais valiosa para mim.

    Muitas vezes me perguntam por quê escuto música internacional ao invés de nacional. Na verdade escuto ambas, só que o que acontece é que prefiro o estilo internacional. É apenas questão de gosto musical, não de desvalorização da música brasileira.
    E muitos me perguntam como posso eu escutar música internacional sem saber o que eles falam. E quem disse que não entendo? Porque não posso estudar a música se não a entendo? Porque tenho que escutar a música só por escutar? Eu posso escutá-la sim, posso estudá-la sim, mas nunca escutar por escutar! Assim como em qualquer coisa na vida devemos tirar algo que nos faça melhorar!

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  2. Não podia esperar nada diferente vindo de Romáryo, palavras conscientes, com autoridade de quem entende sobre o que fala. Muito bom o texto e digo mais: Parabéns a Emerson por ter dado esse espaço para um assunto tão importante para alguém que saberia expor de forma imparcial o que realmente ocorre hoje não com a "decadência" da música brasileira, mas sim como a música em si está sendo tratada por quem a "ouve", segundo o próprio convidado o expôs. Muito bom mesmo!

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