segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Venturosa, filmes e a falta de incentivo à Cultura


O FILME

Na agora distante década de 1990 Venturosa foi descoberta pelo cinema. O produtor cinematográfico e diretor Aníbal Massaini Neto empreitou-se num audacioso projeto de refilmar O Cangaceiro, um dos mais aclamados filmes do cinema nacional.

Embrenhou-se no nordeste brasileiro e em suas buscas por locações encontrou a nossa cidade. A beleza da Pedra Furada e a vegetação da caatinga seduziram a equipe de fotografia, que escolheu Venturosa como palco de várias cenas do filme.



O filme foi gravado em 1996 e abriu para a cidade o acesso a atores famosos na época como Paulo Gorgulho que havia participado da novela Pantanal na extinta Tv Manchete, Luiza Tomé - figura marcante das novelas da Globo, Alexandre Parternosti - do filme O quatrilho e que faria um cangaceiro com forte sotaque gaúcho - e Ingra Liberato da novela Ana Raio e Zé Trovão - que sucederia Pantanal na Manchete.

O Brasil ainda se recuperava de Collor e aprendia a viver com o Real. Fernando Henrique Cardoso derrotara Lula nas urnas e Venturosa era governada pelo hoje extinto PFL.

Eu era muito jovem, mas tanto meu pai quanto minha mãe trabalharam na produção de adereços para o filme e meu pai - Eraldo Galindo - chegou a participar como coadjuvante em algumas cenas.

Para um menino de 12 anos de idade foi uma experiência marcante ver tudo aquilo de perto. A construção dos cenários na Pedra Furada e as cenas gravadas em algumas fazendas e na Lagoa do Senhor Nezinho de Ostácio. Eu pensava que depois daquilo Venturosa seria conhecida nacionalmente e que os turistas passariam a vir cada vez mais para a Pedra Furada. Fantasias de criança.

REPERCUSSÃO NACIONAL E SUCESSO EM VENTUROSA

O filme não foi um sucesso nacional, chegando a ser ofuscado por duas outras películas do mesmo gênero: Corisco e Dadá e o Baile Perfumado. O elenco saiu-se bem e contou com a participação de nomes consagrados como Jofre Soares e Gesse Valadão. Havia até a estrela mirim, Tom do Cajueiro - amigo da apresentadora global Regina Casé. A trilha sonora era assinada por Dominguinhos, mas nada disso ajudou o filme a alcançar a bilheteria desejada. Mas quando saiu em vídeo fez um sucesso absurdo em Venturosa. O povo sempre amou sua cidade e era a primeira vez que a via em um filme. Os atores na tela eram os mesmos que foram vistos pessoalmente, deram autógrafos e foram fotografados ao lado dos seus fãs e admiradores.

DESCASO COM O POTENCIAL CULTURAL E TURÍSTICO

Tão logo as filmagens pararam ocorre um “boom” turístico na Pedra Furada. Mas o parque não possuía instalações atrativas e era constantemente depredado. O município não disponibilizava recursos para o turismo ou investia em propaganda. Pichadores se esforçavam cada vez mais para deixar sua marca em Pedra Furada e destruíam pinturas rupestres de mais de 10.000 anos de idade.
As construções do set de filmagens foram destruídas.
Pesquisadores da Universidade Federal chegaram a declarar que havia como retirar as pichações das pedras sem agredi-las. O convênio nunca foi feito.
A Pedra Furada virou mote de campanha.
A Cultura virou mote de campanha.
Tudo virou mote de campanha.
E nós poderíamos traduzir esse mote turístico cultural como: “Criticar o que não foi feito e prometer o que não tenho a menor intenção de fazer”.

E OS ANOS SE PASSARAM

Dezesseis anos se passaram o Parque Municipal Pedra Furada continua, com poucas modificações, tendo seu potencial desperdiçado. O terreno em seu entorno já foi de particulares e agora pertence ao município, mas a estrutura (ou falta de) é basicamente a mesma.
Não houve investimentos nem na estrutura física nem na propaganda. O potencial para turismo de trilhas e rapel é desperdiçado e tais atividades, quando ocorrem, partem sempre de iniciativa individual.
Porque uma cidade com tantos potenciais e de um povo tão criativo ainda é tão frágil no âmbito turístico e cultural?
Talvez porque as obras que dão visibilidade e votos sejam  apenas as que envolvem tijolos, cimento e brita.
Todas as manifestações culturais foram, pouco a pouco, vitimadas pela falta de incentivo e apoio financeiro. A Paixão de Cristo, por exemplo, deixou de ser encenada. As festas tradicionais perderam seu brilho, só alcançando importância quando se faz conveniente. O mais do mesmo não tem contribuído para incentivar a produção cultual em Venturosa ou o trabalho de seus artistas locais.
Agora, mais uma vez, a Pedra Furada, a Cultura e as Tradições de Venturosa vão virar mote de campanha. Espero que a cena abaixo não se perpetue por mais uma década.


Emerson Luiz

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