segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PROFESSOR COMETE SUICÍDIO NA PRÓPRIA SALA DE AULA. JÁ PASSOU DA HORA DE REVERMOS AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DESSE PAÍS

Por Walter Takemoto

Caros Amigos


"O professor Fernando Leonez se matou na sala de aula em que trabalhava, escrevendo no bilhete encontrado que o ato era em protesto contra a falta de pagamento por parte do governo"

O professor Fernando Leonez se matou na sala de aula em que trabalhava, escrevendo no bilhete encontrado que o ato era em protesto contra a falta de pagamento por parte do governo do estado do RN.
Esse pode ser o motivo, como pode ser também apenas a gota de água que provocou o transbordamento do copo, ou apenas mais um motivo que se somou a vários outros que levaram o professor a ultrapassar o limite do suportável para a sua condição humana.
E hoje o professor é matéria de jornal pela sua morte física dentro da escola.
No entanto, para além dessa morte trágica e violenta, existe outra morte com a qual convivemos cotidianamente nas escolas e que é representada pela morte subjetiva de muitos professores e alunos com os quais trabalhamos.
Descaso
São os professores que estão diante do descaso dos governantes para com a escola pública, das milhares de promessas que se repetem ano após ano sem serem cumpridas, dos salários que evaporam alguns dias após o pagamento e mal pagam as contas acumuladas, da jornada tripla ou quádrupla que os obriga a correr de um lado para o outro, entrar e sair de salas de aula, conviver com centenas de alunos sem nem mesmo conseguir reconhecer quais são de uma turma e quais são de outra e de ter a impressão de viver um filme em que a cena se repete eternamente.
E temos lá nas salas de aula os nossos alunos. Crianças, adolescentes e jovens que carregam as mesmas histórias de vida de grande parte dos professores. Chegam às escolas muitas vezes com o peso de ser a esperança de uma vida melhor para suas famílias. Quem sabe pelo menos um se salva da história de exclusão que marca os pais, os avós e todos os antepassados.
Mais desse autor:
E nós, professores, dia após dia vamos vendo aos poucos alguns alunos e alunas deixando de comparecer as aulas. E outros que não aprendem nem mesmo a ler e a escrever. São incapazes? Deficientes? As famílias é que são culpadas?
Não importa. O que importa é que junto com as esperanças de nossos alunos e alunas que vão ficando pelo caminho, uma parte de nós também deixamos. E que parte é essa que perdemos?
Desejo

"E na mesma proporção em que os sonhos dos nossos alunos e alunas vão morrendo, dia após dia morre também o nosso sonho de fazer parte da transformação da realidade excludente das crianças"

É aquele desejo que trazíamos quando ingressamos no magistério de fazer a diferença na vida das crianças, de lhes mostrar o mundo do conhecimento que liberta e que abre as possibilidades todas de compreender e transformar a realidade.
E na mesma proporção em que os sonhos dos nossos alunos e alunas vão morrendo, dia após dia morre também o nosso sonho de fazer parte da transformação da realidade excludente das crianças, adolescentes e jovens que entraram em nossas vidas pelas portas das escolas.
E na solidão da sala de aula sentimos o peso da perda, nossa e dos nossos alunos. E a quem recorrer?
Quem é que nos formou para enfrentar a dura realidade das escolas da periferia das nossas cidades, e das milhares de crianças excluídas que só nas escolas podem encontrar o acesso ao conhecimento e a cultura que a sociedade lhes nega? E além de nós, educadores, quem mais se importa efetivamente com elas?
E quem é que olha para nós, professores e professoras, e reconhece em cada um o profissional que suporta a dura realidade de ser o depositário das esperanças e frustrações de crianças e seus familiares? E quem é que enxerga a dor que se esconde por trás de não ter individualmente condições de responder a toda essa responsabilidade?
Luta
Individualmente, pouco a pouco vamos nos rendendo e tendo que lidar com a dor do que o professor Wanderley Codo chamou de “bornout” ou a perda da paixão pelo magistério. E vamos adoecendo, e na mais dolorosa das doenças que é a subjetiva, que nenhuma pílula ou cirurgia resolve.
Se não queremos mais trilhar esse caminho sem fim, precisamos compreender que se a exclusão dos nossos alunos é produzida socialmente, a nossa também o é. Nós todos sabemos onde nasce à exclusão e a quem interessa que ela se perpetue, e o nosso silêncio ou omissão diante dos mecanismos sociais que a mantêm produz a perpetuação da roda de exclusão social da qual são vítimas os nossos alunos, é mais do que hora de enxergarmos que somos vítimas desse mesmo processo.
Estamos diante de um desafio posto à categoria profissional, mas que depende de cada um de nós darmos o primeiro passo para dizer que essa é uma luta que já deveria ter se iniciado. Faz muito tempo.

 Walter Takemoto é educador

CHARGES SOBRE EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Informando com responsabilidade. Numa democracia é importante poder debater notícia e ter opinião!