Entre a escola Cônego Emanuel Vasconcelos e a Igreja Matriz
de São José, o busto de Justino Alves lança o seu olhar para os que passam.
Poucos em Venturosa se dedicaram tanto à cidade quanto ele, menos ainda o
fizeram com a mesma motivação: o amor à sua terra e à sua gente. Lideranças
autênticas como a dele são raras na história. Ela é fruto de uma junção de
fatores, que vão do carisma pessoal até os joguetes da fortuna, que dão oportunidade
aos notáveis de promover as mudanças necessárias e que a primeira vista pareceriam
impossíveis.
Uma vila tornou-se cidade. Uma cidade que sempre sofreu com
os efeitos da seca já ostentou o título de bacia leiteira do estado de
Pernambuco e até hoje é conhecida pela qualidade dos seus laticínios, terra de
gente trabalhadora e corajosa, mas que peca ao esquecer dos que se dedicaram para
que se tornasse o que é hoje.
Como Jerusalém matou e apedrejou seus profetas, Venturosa
condena seus notáveis ao esquecimento. Os nomes se perdem, a memória se dissipa
e a cidade se torna órfã de seus pais e mães. Seus nomes batizam ruas e prédios
públicos, mas além disso, nada que frutifique no espírito dos nossos jovens. A
política ainda dita quem deve ser lembrado e quem é condenado ao esquecimento.
O brasileiro, em geral, tem dificuldade em reconhecer qualidades alheias.
Podemos constatar isso ao observar as ofensas que se dedicam as personalidades
vivas e, após a morte destas, as grandes homenagens que se seguem. Mas depois
da comoção, o que sobra?
A memória de um povo é um tesouro que deve ser preservado.
Nossa cidade tem poucos registros de sua história. Quase nada se sabe sobre
suas primeiras famílias, sobre suas professoras, seus médicos, farmacêuticos,
artistas, poetas e de suas lideranças comunitárias. Faltam tantos bustos em
nossa cidade! E faltam ainda mais livros, imagens e reconhecimento a essas
pessoas. Da praça, o busto de Justino Alves tenta encontrar a memória dos seus
colaboradores e daqueles que o sucederam no amor por Venturosa.
Em seu silêncio
eloquente, ele nos cobra pela nossa história.
Um povo que não conhece o seu passado é um povo sem futuro,
pois não tem identidade. Felizmente há tempo para nos corrigirmos. Resta-nos
agora operários para essa obra vital.
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