terça-feira, 3 de março de 2015

A FALTA DE MEMÓRIA DE VENTUROSA


Entre a escola Cônego Emanuel Vasconcelos e a Igreja Matriz de São José, o busto de Justino Alves lança o seu olhar para os que passam. Poucos em Venturosa se dedicaram tanto à cidade quanto ele, menos ainda o fizeram com a mesma motivação: o amor à sua terra e à sua gente. Lideranças autênticas como a dele são raras na história. Ela é fruto de uma junção de fatores, que vão do carisma pessoal até os joguetes da fortuna, que dão oportunidade aos notáveis de promover as mudanças necessárias e que a primeira vista pareceriam impossíveis.

Uma vila tornou-se cidade. Uma cidade que sempre sofreu com os efeitos da seca já ostentou o título de bacia leiteira do estado de Pernambuco e até hoje é conhecida pela qualidade dos seus laticínios, terra de gente trabalhadora e corajosa, mas que peca ao esquecer dos que se dedicaram para que se tornasse o que é hoje.

Como Jerusalém matou e apedrejou seus profetas, Venturosa condena seus notáveis ao esquecimento. Os nomes se perdem, a memória se dissipa e a cidade se torna órfã de seus pais e mães. Seus nomes batizam ruas e prédios públicos, mas além disso, nada que frutifique no espírito dos nossos jovens. A política ainda dita quem deve ser lembrado e quem é condenado ao esquecimento. 

O brasileiro, em geral, tem dificuldade em reconhecer qualidades alheias. Podemos constatar isso ao observar as ofensas que se dedicam as personalidades vivas e, após a morte destas, as grandes homenagens que se seguem. Mas depois da comoção, o que sobra?

A memória de um povo é um tesouro que deve ser preservado. Nossa cidade tem poucos registros de sua história. Quase nada se sabe sobre suas primeiras famílias, sobre suas professoras, seus médicos, farmacêuticos, artistas, poetas e de suas lideranças comunitárias. Faltam tantos bustos em nossa cidade! E faltam ainda mais livros, imagens e reconhecimento a essas pessoas. Da praça, o busto de Justino Alves tenta encontrar a memória dos seus colaboradores e daqueles que o sucederam no amor por Venturosa. 

Em seu silêncio eloquente, ele nos cobra pela nossa história.

Um povo que não conhece o seu passado é um povo sem futuro, pois não tem identidade. Felizmente há tempo para nos corrigirmos. Resta-nos agora operários para essa obra vital.

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