Há certo tempo me convenci que a
qualidade de um político reflete a do seu eleitor. É a confirmação do adágio de
que cada povo tem o governo que merece. Nos últimos dois debates presidenciais
testemunhei o abandono da exposição de ideias para o emprego do ataque frontal,
da troca de injúrias e do bate boca rasteiro que mais combina com filosofia de
botequim que com aspirantes ao Planalto. Mas não pensem que é porque não há o
que se expor ou debater, é porque não dá pra dançar valsa no meio de um baile
funk.
O candidato do PSDB, Aécio Neves
é blindado pela grande mídia, seu governo nunca sofreu uma investigação séria e
órgãos do estado de Minas ainda se movimentam a seu favor (Como o site do
Tribunal de Contas daquele estado sairia do ar para retornar só depois de
apagar documentos que o comprometesse?) e ditou um tom agressivo, acusando
Dilma Rousseff, PT, de mentir e ser leviana a cada vez que essa o questionava
diretamente. Dilma reagiu no debate da Band, chegou a ditar o ritmo em alguns
blocos e surpreendeu Aécio. Boa parte do eleitorado foi às alturas com o banho
de sangue mútuo estralado pelos dois candidatos.
Como a fórmula foi aceita pela
maioria, o debate do SBT pareceu um programa de auditório no estilo casos em
família. Lavagem de roupa suja com desvantagem para Dilma, claro. O motivo é
que Aécio é cínico por natureza, talhado na arte de embromar e fugir de
perguntas incômodas, sempre com a mesma estratégia: “a senhora mente”, “é feio
mentir”, “assuma seus erros”, quando, quem mais falta com a verdade é o senador
de Minas.
Enquanto lutam boxe, Dilma não
frisa as “medidas impopulares” de Aécio, seu posicionamento contra os
trabalhadores, os financiadores de sua campanha e não emociona o povo com as
grandes conquistas do seu próprio governo. O Brasil não pode esquecer do que
era e do que se tornou, uma terra de oportunidades, onde o filho de pedreiro
hoje pode ter diploma de doutor. Milhões saíram da linha do pobreza, o país
saiu do mapa da fome, atravessou a pior crise econômica da história recente sem
demitir nem arrochar salários. Isso não está sendo mostrado como deveria.
Tecnicamente empatados e
orientados por seus marqueteiros, Dilma e Aécio vão tentar desconstruir a
imagem um do outro. Suas propagandas na televisão dão o sinal perfeito disso. O
que dá vantagem a Aécio não é sua biografia pessoal, tão pouco o seu projeto
político de tornar esse país novamente uma colônia a serviço do capital
privado, é sua experiência em chafurdar na lama, em ser cínico, em sorrir ao
mentir e arrotar fábulas com os olhos cheios d’água como se fossem verdades. As
lágrimas que não escorrem são o que ele tem de mais sincero: as lágrimas do
crocodilo, que só cairão quando seus dentes começarem a triturar a presa. No
caso, nós, o povo brasileiro.
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