segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sinto vergonha



Uma vez postei aqui no blog um vídeo de Rolando Bodrim declamando uma poesia de Cleide Caton intutalada "Sinto vergonha de mim". Antes de externar o que penso quero repetir a primeira estrofe do referido poema:

Sinto Vergonha de Mim

"Por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra."

Sinto vergonha de algumas coisas. Sempre defendi (e espero morrer com este princípio) que os debates devem se ater as nobres ideias, e nunca, sob hipótese alguma, recair sobre as pessoas. Defeitos todos temos. O único homem perfeito deu sua vida pela humanidade ao ser imolado numa cruz. Temos o dever de imitá-lo, mas cada um sabe o quão fraco e falho pode ser.

Grandes homens e grandes mulheres cultivam ideais, aspiram atingir o que ainda não se vê e, em sua grandiosidade, sacrificam-se por aqueles que são vitimados pelas opressões e injustiças. A humanidade está repleta de bons exemplos:

Mahatma Gandhi
Martin Luther King
Oscar Romero
Betinho
Madre Teresa
Dorothy Stang
Zilda Arns

Homens e mulheres que desafiaram sistemas e doaram-se totalmente à causa que defendiam. 

E se mostraram.

Foram perseguidos.

E persistiram.

No caminho de uma real democracia e da construção de uma sociedade mais justa e fraterna é normal que pessoas entrem em divergências. No processo de questionamento de modelos políticos também haverá contradições, rupturas e falas e posturas banhadas de indignação.

Como dizia Dom Hélder: "Se discordas de mim me enriqueces". É dever de uma oposição séria e consciente discordar de forma responsável. Mais ainda: é dever trazer na discordância uma alternativa de mudança, uma proposta de dias melhores e de vidas mais dignas.

Sinto vergonha de algumas coisas que leio. Alguns comentários que são enviados a este blog de forma anônima para denegrir e acusar pessoas, banhados com tamanha cegueira que chegam a não respeitar a dor de familiares que ainda sofrem com percas recentes para tecer críticas desprovidas de razão.

Seria mentira dizer que Venturosa não possui o melhor serviço de saúde de Pernambuco? Não. Seria mentira afirmar que nossa cidade ainda não se educou para a paz? Que fomos educados numa cultura de violência e que carecemos não só de um melhor serviço de segurança pública como também de uma sólida educação pautada na ética e no respeito à vida? Não. 

Mas o que não se pode fazer é vestir a máscara do anonimato para distorcer e atacar. Não é justo que na defesa de um ponto de vista uma pessoa ou grupo de pessoas possam difamar, agredir, denegrir e distorcer fatos ao seu bel prazer, tripudiando sobre a dor e o sofrimento alheios. Não é dessa maneira que chegaremos ao que almejamos: uma sociedade mais justa que acolha a todos e lhes dê iguais condições de desenvolvimento.

Tão bela é a democracia! Tão sublime o dom de poder expressar o que se sente! 

Que paradoxo se esconder para defender e atacar ao bel prazer, pautando-se apenas por conveniências momentâneas e vazias de sonhos e ideais.

Não sinto vergonha por todos os comentários anônimos. Muitos me deram prazer, pois também sei que a liberdade de dizer nem sempre é respeitada por todos que tem a liberdade de ouvir. Tenho a certeza que vocês entendem o que quero dizer, e finalizo esta postagem com os últimos versos do poema de Cleide Canton:

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,

tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!

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