domingo, 29 de janeiro de 2012

Domingo - Crônica.


O homem levanta e apanha o jornal e vê notícias que não lhe agradam. Toma seu café de forma mecânica e medíocre sem sequer prestar atenção no aroma ou no sabor do alimento. O queijo quente que escorre pelo lado do pão francês não empolga e ele apenas mastiga e engole enquanto olha para a TV. "Trinta canais e nada que valha a pena ser visto", lamenta para ele mesmo.

Tem saudade de outros tempos. Talvez das manhãs em que ia para o sítio, talvez dos jogos de futebol que ocorriam nos dias de glória de sua juventude e talvez de sua cidade, quando as pessoas não se isolavam entre quatro paredes ou em telas luminosas.

Pensa em levantar e ir para qualquer lugar, aí lembra que não tem lugar algum para ir. Ri e se indaga se seria divertido morrer, mas lembra que Deus não gosta muito de suicidas.

Começa a imaginar como deveria ser o inferno. Local angustiante repleto de todo o tipo de obscenidades e torturas excruciantes, onde o diabo sorridente tortura almas sem nunca descansar. 

Como seria o inferno? Aquele lugar de fogo não cabia em sua imaginação. Se o cara que fosse condenado gostasse de ver coisas queimarem ele não seria assim tão ruim. 

Seu raciocínio foi interrompido com um estalo e um pouco de fumaça saindo do receptor da antena parabólica. A velha tv era daquelas que possuía entrada para antenas em "v". Foi até o armário velho e pegou aquela antena velha como ele que nunca soube porque a havia guardado. Coisas de quem gosta de remoer o passado.

Quando a Tv voltou a exibir algo visível o homem percebeu que só poderia escolher entre SBT, Record e Globo. Gugu, Faustão e Celso Portioli.

Agora ele sabia como o inferno deveria ser.


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