domingo, 8 de novembro de 2009

Venturosa

Venturosa cidade de interior.
Não que o progresso não tenha chegado,
já temos “asfalto”, internet, celular
e muita confusão,
nosso comércio cresce
junto com a população,
tanta casa reformada,
tantas em construção.
Venturosa
que uns dizem ter nascido de uma fazenda,
outras de um lugar de pouso,
Venturosa
fruto da fé e do trabalho do povo.
Venturosa é poesia,
como os cabelos de Maria,
a balançar pelo vento,
bonita como a morena faceira,
feliz e dançadeira,
fonte de contentamento.
Mas Venturosa
Para onde vai nesse caminho
Perdendo tua razão?
Teu Ipanema era antes um sorriso,
agora é preocupação,
pois Venturosa cresce,
mas não sem complicação.
O Ipanema
morrendo vítima do descaso,
o povo que joga lixo,
o esgoto poluído,
envenenando tuas águas,
tornando-as pretas como um tacho.
Rio dos bois e Campo Grande
vão no mesmo caminho,
não há preocupação,
a água vai se poluindo.
Não percebe a população
a construção de um cruel destino?
A Ingazeira afamada,
barragem infinda.
Com o desmatamento dos leitos
dos rios está quase entupida!
E nossa Pedra Furada?
Cenário de deslumbramento,
beleza sem igual!
Pelo descaso da nossa gente,
coberta com tinta e cal!
Pinturas dos nossos antepassados,
milhares de anos de passado,
coberta sem compaixão,
e no lugar da história,
um monte de pichação!
Nossas festas tão belas
caindo no esquecimento.
Abandonamos o pastoril,
a Paixão de Cristo,
para festejar no cimento,
ouvir música safada,
ver dançarina quase pelada
e esquecer a tradição.
Pouco a pouco somem as fogueiras,
deixamos de dançar quadrilha,
assar milho na brasa,
as velhas simpatias,
pra saber se casa ou não,
escolhemos o “progresso”
esbagaçando nosso coração!
O filho não pede a benção
A mulher não respeita o marido
Até o mais simples namoro
Tem de ser colorido
Quanto mais a mostra
Se diz mais bonito

Onde está a poesia?
A cantoria de pé-de-parede?
Esquecemos de como é gostoso
Dormir numa rede
Jantar na mesa grande
Na maior união
Hoje se como em pé
Ou no quarto
Cada um pro seu lado
Todo mundo de frente pra televisão
Foram embora as serenatas
Cabelos amarrado em fita
Foi-se o tempo do cinema
Das serestas do clubinho
De andar de mão dada
Roubar beijo rapidinho
Guardando no coração
Agora é festa na quadra
Avião, saia rodada
E só a pegação

Tenho saudade do tempo
Em que sonhar era possível
De correr na chuva
Tomar banho de rio
De ver a rua enfeitada
Fogueira em frente da calçada
Quadrilha, pastoril
Do leilão, da cavalhada
Dos jogos no campo do Vec
Das corridas de prado no domingo
Como eras arrumada
Igual a namorada
Nos dias de cheiro em flor
Venturosa adorada
Cidade do meu amor
Desejo que cresças sem medida
Tenha progresso e oportunidade
Mas que cresças da forma certa
Sem perder tua identidade
Pois um progresso sem consciência
Que destrói a tradição
Gera violência
Pobreza e corrupção
Cresça em sabedoria
Se tornando melhor cidade
Cresce em conseqüência
Da tua maturidade
Não esquece das coisas simples
Do que te fez cidade!

Um comentário:

Informando com responsabilidade. Numa democracia é importante poder debater notícia e ter opinião!