segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ÉTICA É FUNDAMENTAL



Parafraseando o imortal poeta Vinicius de Moraes, que versou sobre a necessidade da beleza na vida, inicio esse artigo solicitando que aqueles que não concordam me perdoem, mas na política ética é fundamental.
A discussão sobre ética e política não é nova. Desde os fundamentos da ciência política, Maquiavel afirmou que “os fins justificariam os meios”. Outros pensadores lançaram outras pedras no alicerce do pensamento político. Montesquieu defendeu a tripartição dos poderes em três esferas harmônicas e independentes entre si. O filósofo havia entendido que “apenas o poder limita o poder”. Jean-Jacques Rousseau, já no século dezoito afirmou que “a soberania reside no povo”, soberania essa que expressaria a vontade da maioria por meio do voto.
Muitas revoluções ocorreram e muito sangue foi derramado ao longo dos séculos para que os Estados se transformassem em democracias e que o povo pudesse expressar sua vontade. A história da nossa América Latina é marcada por lutas contra as mais diversas opressões. As ditaduras foram vencidas e o povo foi as ruas pelo sagrado direito de decidir sua vida e sua história. O Brasil foi palco de movimentos estudantis, movimentos pela reforma agrária e pelo voto direto para a escolha do presidente. O povo brasileiro marchou junto, de cara pintada, para depor um presidente corrupto, e num só sentimento sentiu a felicidade da vitória.
Já se passaram alguns anos, desde que saímos as ruas para exigir uma postura ética de nossos políticos. Os casos de desvios, fraudes, mau uso do dinheiro público e os infelizes exemplos de vários homens públicos que usaram de sua influência para assegurar vantagens pessoais ou favorecer a quem bem desejaram, de políticos que confundiram o público com o privado, que enriqueceram ilicitamente e que são acusados ou culpados de graves atentados contra a vida parecem ter minado nossa capacidade de indignação. É como que tudo fosse permitido porque sempre foi assim!
A Igreja Católica tem uma bela caminhada ao lado dos movimentos populares, tendo na voz dos seus mártires e profetas modernos o anúncio do Reino de Deus, que deve ser vivido, mesmo que de forma embrionária, já neste mundo. Os muitos justos que animados pelo mesmo Espírito de verdade e justiça que animou Hélder, Romero, Stang, e tantos outros deram suas vidas por sonhar os mesmos sonhos de libertação. É nossa responsabilidade legar ao mundo não uma ideologia evangélica, mas a prática concreta do evangelho anunciado por Jesus.
Nós cristãos temos um compromisso com o Reino, somos servos e servas do Deus da vida, libertador dos oprimidos e que deseja que todos e todas tenham vida, e vida em plenitude.
Sonhar os mesmos sonhos de Jesus exige de nós uma postura ética condizente com os valores do Reino. O modelo de sociedade injusto adotado para assegurar o crescimento econômico incentivando o consumismo, a concorrência desleal e o lucro sem medidas têm gerado graves problemas sociais. O pragmatismo do nosso povo tem permitido a ascensão de políticos pragmáticos e demagogos, defensores de suas próprias causas e dos desejos daqueles que financiam suas campanhas. Políticos que esquecem representar o povo e aprovam leis que vão de encontro à vontade popular, e que algumas vezes, chegam a prejudicar o povo, suprimindo seus direitos.
É chegada a hora de mais uma vez caminharmos juntos e exigirmos uma nova postura daqueles que são eleitos pela vontade majoritária do nosso povo. É hora de dar um basta no círculo vicioso da manipulação de divisas públicas e do empobrecimento das massas para assegurar os privilégios ofertados a uma minoria.
Um importante passo já foi dado. O projeto de lei que exige do candidato uma ficha limpa para disputar um cargo eletivo é um início tímido, mas é um início! A CNBB inicia essa jornada com o apoio da sociedade civil e nós, leigos e leigas, devemos fazer a nossa parte. Há um adágio popular que afirma que “cada povo tem o governo que merece”. Nosso povo merece governos justos. Nossas crianças merecem escolas com merenda de qualidade e professores capacitados, nossos jovens merecem condições de ingressarem no mercado de trabalho, mas não só isso, pois nem só de pão vive o homem. A juventude merece condições de desenvolver plenamente suas capacidades físicas, intelectuais e espirituais, sendo respeitada na beleza de sua diversidade. Nossos idosos e doentes merecem gozar de um serviço de saúde que realmente atenda as suas necessidades e não apenas combata,e de forma precária, os sintomas das várias doenças que nossa sociedade é acometida. Um candidato que não esteja sendo processado por uma má administração ou crimes de natureza política é o mínimo que todo o nosso povo merece.
Mesmo em meio as dificuldades encontradas, “nós, que somos Igreja, “devemos caminhar com a certeza que vai raiar o dia em que o povo dançará de alegria sobre os escombros da tirania e da opressão”.
Colaboremos então com o abaixo assinado a favor dos candidatos ficha-limpa, sabendo que este é apenas um primeiro passo tímido, e audacioso, de uma longa e necessária caminhada para a construção de um Reino de paz, justiça e amor.
Emerson Luiz Galindo Almeida - Professor especialista em programação do Ensino de História e membro da Equipe Diocesana de Coordenação de Pastoral.

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