Nasci em 1983. Não sei se fazia chuva
ou sol. De acordo com os astrólogos de plantão sou de áries, regido por Marte,
um planeta guerreiro. Já o pessoal da numerologia afirma que as letras do meu
nome desencambam num tal de 3, que é o número dos comunicadores. Os caras que
mexem com nomes dizem que o meu vem do teutônico e quer dizer General Industrioso,
o que está pronto para guerra. Não dou crédito a nada disso, mas que é uma
grande coincidência eu gostar de comunicar algo, ah é.
Mas voltando a década em que nasci, a
de 1980, teve muita coisa legal. O governo militar caiu de vez e o Brasil continuou
pagando seus pecados. A morte de Tancredo e o fato de Sarney assumir a
presidência é um bom exemplo disso.
Em 1988 veio a Nova Constituição, mas
eu não dava importância a isso ainda. Muito criança eu lembro das corridas de
prado e dos jogos do Venturosa Esporte Clube, o VEC. Tinha um campo de futebol
e um de meus tios era árbitro. Sempre que havia jogo o campo lotava e o pessoal
reclamava para a gente não ficar perto demais do alambrado. Ele estava caindo e
podíamos nos machucar ou tomar uma bolada violenta.
O pessoal ia assistir o jogo e muitos levavam um rádio de pilha. Enquanto
assistiam ao VEC jogar ouviam o campeonato estadual. Meu pai é Náutico doente e
não sei explicar porque fui torcer pelo leão da ilha. Bons tempos aqueles.
Fui crescendo e a situação do campo
piorou. Foi caindo aos poucos, assim como o VEC foi sendo esquecido. Não sei se
era a minha ilusão de criança, mas achava o VEC um dos melhores times da
região.
O tempo foi passando e o Campo do VEC
virou mote de campanha. A cada quatro anos a gente ouvia alguém dizer que ia
dar jeito no campo. Dizia que ia arrumar um monte de coisas também, mas o campo
aparecia sempre. Dizem que recursos foram liberados várias vezes, mas
sinceramente acho que o preço de tijolo e do cimento sempre aumentou quando
tentaram fazer algo lá, porque o serviço nunca ficou pronto. Deve ser difícil
mesmo ser responsável por isso, afinal, tenho 29 anos e de lá para cá me lembro
de ter ouvido a promessa quatro vezes.
Hoje o campo virou ilustre terreno
baldio. Num dia incomum virou até local de pouso de helicóptero e recebeu o
governador do Estado. Vi uma foto na internet e reconheci um dos muros que
ainda está de pé. Não entendi como disseram que era o aeroporto de Arcoverde,
mas sempre que pergunto sobre algo assim tem um pessoal que se irrita.
Fiz um desenho sobre isso, uma charge.
Foi uma crítica bem humorada, mas o pessoal se irritou muito. Disseram que já
tinha verba para isso, só que emperraram na burocracia. Burocracia danada essa
que emperra até a saudade da gente. Burocracia de mais de 16 anos. Se eu
pudesse acabava com essa tal de burocracia só pra ver se a demora é dela mesmo,
mas como não posso agradeço a Deus por ter ao menos a liberdade de escrever e
desenhar, porque se dependesse do povo que põe a culpa na burocracia eu não
estaria falando dos bons e velhos tempos e você não estaria lendo essa crônica.
Dizem que o campo fica pronto esse
ano, tinindo de novo. Quero sim ver o Campo do VEC de pé, mas não só o campo.
Quero ver o time, nossos atletas tendo apoio e reconhecimento. Quero ver o
esporte sendo valorizado em minha cidade. Ouvi dizer que a verba tá lá há mais
de um ano, mas não vou falar sobre isso. Hoje, como antigamente, pensar é algo
perigoso, principalmente para quem pensa. O tempo passou meu amigo, mas
infelizmente certas coisas não.
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