Mario Sérgio Cortella, filósofo
brasileiro, escreveu um interessante livro em parceria com o educador (e hoje
Ministro da Educação) Renato Janine, intitulado “Política para não ser um
idiota”. Os dois pensadores suscitam questões importantes sobre o rumo da
política em nossa sociedade. “São abordados temas como a participação na vida
pública, o embate entre liberdade pessoal e bem comum, os vieses de escolhas e
constrangimentos, o descaso dos mais jovens em relação à democracia, a
importância da ecocidadania, entre tantos outros pontos que dizem respeito a
todos nós”.
Várias das ótimas palestras do
professor Mário Sérgio estão disponíveis no Youtube e sempre recomendo aos meus
amigos que vejam uma, outra, ou todas. Hoje a internet proporciona a um número
cada vez maior de pessoas ferramentas para que se aprimorem em suas capacidades
e se eduquem, no amplo sentido da palavra.
Mas o que vemos é que há uma
parcela de pessoas cada vez mais intolerantes. A liberdade de expressão nas
redes sociais permite que as ideias se propaguem rápido, e os preconceitos
também. Os intolerantes parecem ser a maioria porque fazem mais barulho, não
entendem o princípio da isonomia e desconhecem a pluralidade de opiniões e
visões de mundo. Com eles é sempre preto no branco, na verdade, desejam que
fosse branco no branco, e, por isso, alguns ainda alimentam preconceitos de cor
e gênero como se fossem bichos de estimação.
Falta-lhes o conhecimento da
política para não tornarem-se idiotas. É bom ressaltar que hoje usamos a
palavra para designar pessoas com algum grau de deficiência mental, mas neste
texto quero dar ao termo sua conotação original. Para os gregos, que criaram a
palavra, o idiota era aquele que tinha plenas condições para participar da vida
de sua cidade e escolhia não fazê-lo. A raiz da palavra, Ideo, significa próprio
e dela derivam Identidade e individual, por exemplo.
O idiota grego era aquele que
preocupava-se apenas com suas necessidades individuais e não com o bem-estar de
todos os cidadãos.
E convenhamos, há muitos idiotas
(como os gregos lhes chamavam) no mundo moderno. Cheios de certezas e sem
qualquer dúvida, havidos por espalharem boatos e destruírem reputações com
poucos cliques, batedores de panelas profissionais, que o fazem não para
protestar contra a ordem vigente, mas por desejar negar ao outro o direito de
falar, de se fazer ouvir, o que no fim significa o desejo de não ser convidado
a repensar suas atitudes.
O idiota se orgulha de não gostar
de política, como disse Brecht, e ao negar a política veta a participação
social, o espaço dos questionamentos e das proposições, o seu próprio direito
de ser cidadão.
A idiotização parece ser um
caminho sem volta no Brasil, mas em mim ainda arde uma chama trêmula de
esperança. Muitos jovens ainda desejam
intervir positivamente no mundo, querem ver derrubadas estruturas arcaicas que
limitam a liberdade e impedem as pessoas de viverem com dignidade. Eles ocupam espaços,
fazem passeatas, promovem tuitaços, invadem assembleias e o mais importante: não
desejam calar ninguém.
Rezo para que sejam eles, com sua
prática questionadora e renovadora, que espalhem a política de não se ser idiota.
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