sábado, 6 de abril de 2013

Representa ou não? Mas, afinal, representa o quê?

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais é a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Grupos ligados ao direito das minorias reagiram à nomeação do pastor Marcos Feliciano por ele ter expressado opiniões racistas, homofóbicas e fundamentalistas em redes sociais.

Tanto estardalhaço colocou o Pastor Marcos Feliciano sob os holofotes, um lugar que qualquer político gosta de ocupar, afinal, uma das regras do meio é: “não importam o que digam, apenas não me esqueçam”. Mas o que quero tratar aqui não é sobre as opiniões racistas, homofóbicas, fundamentalistas e nem tão pouco sobre as acusações de estelionato que pesam sobre esse nobre “homem de Deus e de família”. Quero me prender as aspectos que não estão sendo explorados, ou talvez, estejam sendo propositalmente esquecidos. A direção desses colegiados é negociada politicanalhamente, uma partilha entre partidos que apoiam o Governo. Os grandes partidos ocupam as grandes comissões, a que trata de Constituição e Justiça – a maior entre elas – é presidida pelo mensaleiro José Genoíno, condenado no maior processo político da história desse país. (Onde estão os ativistas?) O PSC, um partido de pouca expressão se comparados ao PT, PR, PDT e etc., “ganhou” a presidência dessa comissão e indicou seu representante. É justo? Não! É a primeira vez que algo desse tipo ocorre? Não!

Então quando nos indignamos com os jogos sujos que fazem parte dos “bastidores do poder” caímos numa tentação simplista de colocar todos os políticos numa cesta só como se todos fossem corruptos. E com isso fazemos o trabalho dos que realmente são, pois abandonando a criticidade não procuramos fazer distinções e não damos valor a força do nosso voto.

Feliciano realmente não me representa. Mas por quê ele não me representa? Por que é contrário ao casamento homossexual? O assunto é Tabu e muitos evitam tocar nele. Quem sabe não seria mais fácil se separássemos união civil do conceito de Matrimônio. Religiosos, legisladores e juristas teriam um instante de paz. Ou não seria também uma ato de ditadura obrigar as religiões a passarem por cima do que diz seus Escritos Sagrados e práticas de Culto para aceitar o que sua fé não professa? O matrimônio católico é um ato religioso, um Sacramento, e não vai ser mudado por pressões sociais. O Brasil é um estado laico e os militantes podem assegurar, como tem feito, o reconhecimento das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo mas não mudar os dogmas de fé de uma religião. Crer é uma escolha feita num ato de plena liberdade e não condicionada por pressões de grupos organizados. Sou católico e isso nunca me fez ser preconceituoso, ao contrário, me ensinou a aceitar o diferente e enxergar as limitações que existem em mim e nos outros, a perdoar e tentar compreender e isso nunca me impediu de ter grandes e profundas amizades com pessoas que pensam e sentem de forma diferente. Os direitos humanos também versam sobre liberdade de crença, formas de culto e liberdade de expressão e as Igrejas merecem respeito em suas práticas e tradições. O velho e atual “trate os outros como gostaria de ser tratado”. Vivemos em um mundo plural e cheio de diversidade e é a tolerância ao contraditório que torna a vida possível e pacífica.

Feliciano não me representa por ser a antítese do político, do ser humano tolerante, do cidadão da pólis que legisla pelo bem da maioria, sem ser motivado por ambições e projetos pessoais. Feliciano não me representa porque não concordo com o jogo do toma lá da cá, com o tráfico de influencia e com cargos públicos sendo loteados entre partidos ou seus representantes. 

Enfim, Feliciano não me representa porque não sou homofóbico, racista, corrupto e preconceituoso, não me representa nem jamais me representará porque sou um dos milhões de brasileiros que sonha com um país mais justo e honesto onde todos tenham seus direitos respeitados.

Apoio o movimento do Fora Feliciano mas gostaria de apoiar um movimento maior, um movimento de politização da nossa sociedade, onde votos não fossem mercadorias e o povo não fosse tratado como gado ou massa de manobra. Onde os sindicatos não fosse reféns ou aliados de governos opressores, onde vereadores fiscalizassem seus prefeitos ao invés de negociar a aprovação de leis e projetos em troca de privilégios e favores. Onde deputados cumprissem seus mandatos e não pressionassem por cargos, presidências e ministérios e isso só será possível quando nós, cidadãos, tomarmos a consciência que devemos ser a mudança que tanto esperamos. A ética, o respeito pelos direitos humanos, o compromisso com a coisa pública e a honestidade deve começar por nós e assim teremos menos Felicianos, Renans, Genoínos, Delúbios, PC’s Farias, Collor’s e tantos outros.

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