domingo, 14 de abril de 2013

E agora, José? Refletindo com Drummond, Chaplim e Chico sobre as reações ao Poder.

O Ditador brinca com o mundo, achando que este lhe pertence.

É a pergunta feita por Carlos Drummond de Andrade que me serve de inspiração para esta crônica. Hoje, 14 de abril de 2013 me dedico a refletir um pouco sobre como as pessoas se comportam diante do poder e na ocasião de sua ausência, em como os valores de alguns mudam quando o que está em jogo é a realização de suas ambições.

Foi Nicolau Maquiavel que lançou a máxima: "os fins justificam os meios". Na ótica maquiaveliana se o objetivo é bom tudo pode ser feito para se chegar até ele. E como alguns conhecidos se pautam em Maquiavel sem nunca ter lido sequer uma linha de seus escritos!

Mentem, difamam, caluniam, sem jamais se preocupar com o peso de suas palavras ou o impacto que surtiram na vida de outrem. "Faz parte do jogo", se justificam. E o que dizer quando o jogo acaba? Que tudo terminou e voltará a ser como antes? Que os insultos e as calúnias devem ser esquecidas até que os interesses mais uma vez entrem em conflito? Os fins não justificam os meios e as pessoas que realmente têm caráter não o desligam esporadicamente.

"Diga a ele que aquilo que eu disse foi só naquela situação. Ele é um homem honrado, gosto muito dele." Imagino se não gostasse! Se gostando foi capaz de dizer o que disse, fazer tudo o que fez, usar de todos os meios para destruir uma imagem, imagino se em vez de um gostar houvesse ódio cego e desmedido!

Uma vez eu disse que o poder corrói o bom senso, que deturpa os sentidos e nubla a percepção. Quem o perde acorda como o jovem depois de festejar alguns dias em excesso. A ressaca nubla a lembrança e ele não sabe direito o que fez ou com quem esteve, ou sabe, mas a vergonha o impede de dizer. "Eu estava bêbado, perdão". "Eu te chamei de ladrão, disse que você era desonesto, coloquei em você uma culpa que você não tinha e nem me preocupei com isso. Eu estava no poder, perdão!"

Mas assim como o efeito do álcool passa, os efeitos do poder também. As pessoas – antes súditos leais e submissos - não mais o procuram. A presença indispensável passa a ser dispensável, a voz antes inquestionável nem sequer é desejada para ser ouvida, afinal, o Rei está morto, vida longa ao Rei! Começa a se perceber que os amigos do dinheiro são amigos do dinheiro e que o amor que lhe era devotado não era dirigido a pessoa em si, mas ao que ela podia fazer. Mundo injusto esse, não? 

Onde estão os companheiros? Aqueles que disseram que você inventou a roda. Que você era a peça mais importante do tabuleiro e sem você nada poderia existir? As filas intermináveis de pessoas para o beijo das mãos, os concelhos e os pedidos? Os convites infindáveis e todas aquelas reverências? E agora, José?

A festa acabou,/a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou, e agora, José? e agora, você?

Não tenho as respostas que gostaria de ter, e as que tenho não são as que você gostaria de ouvir. Hoje o mundo, em sua essência, continua igual ao que sempre foi. Não há nada de novo sob o Sol. Algumas pessoas continuam a tratar as outras como objetos, peças em seu tabuleiro de jogos pelo poder. Ainda existem aqueles que acreditam em dias melhores, que não mudam de opinião por causa de trinta dinheiros, cargos ou presidências. Ainda existem os que querem o bem, o justo e o correto e estes parecem se multiplicar, graças a Deus. Para estes a desculpa do bêbado do dia seguinte não cola. Eles não acreditam que os fins podem justificar os meios e que o dinheiro a tudo e a todos pode comprar. É a eles que me dirijo repetindo as palavras de Chaplim no discurso do grande ditador:

"Vamos lutar por um mundo novo! Um mundo decente, que vai dar ao homem uma chance de trabalhar, que vai dar futuro a juventude e a segurança aos idosos. Prometendo isso, os cruéis vieram ao poder, mas eles mentiram, não cumpriram sua promessa, eles nunca vão. Ditadores libertam eles mesmos, mas eles escravizam as pessoas. Agora vamos lutar para cumprir essa promessa". E para os que motivaram esse post só posso terminar com o grande menestrel, o mestre Chico Buarque:

Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia
Inda pago pra ver/ O jardim florescer/ Qual você não queria
Você vai se amargar/ Vendo o dia raiar/ Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir/ Antes do que você pensa

Emerson Luiz


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