É a pergunta feita por Carlos Drummond
de Andrade que me serve de inspiração para esta crônica. Hoje, 14 de abril de
2013 me dedico a refletir um pouco sobre como as pessoas se comportam diante do
poder e na ocasião de sua ausência, em como os valores de alguns mudam quando o
que está em jogo é a realização de suas ambições.
Foi Nicolau Maquiavel que lançou a
máxima: "os fins justificam os meios". Na ótica maquiaveliana
se o objetivo é bom tudo pode ser feito para se chegar até ele. E como alguns
conhecidos se pautam em Maquiavel sem nunca ter lido sequer uma linha de seus
escritos!
Mentem, difamam, caluniam, sem jamais
se preocupar com o peso de suas palavras ou o impacto que surtiram na vida de
outrem. "Faz parte do jogo", se justificam. E o que dizer
quando o jogo acaba? Que tudo terminou e voltará a ser como antes? Que os
insultos e as calúnias devem ser esquecidas até que os interesses mais uma vez
entrem em conflito? Os fins não
justificam os meios e as pessoas que realmente têm caráter não o desligam
esporadicamente.
"Diga a ele que aquilo que eu
disse foi só naquela situação. Ele é um homem honrado, gosto muito dele."
Imagino se não gostasse! Se gostando foi capaz de dizer o que disse, fazer tudo
o que fez, usar de todos os meios para destruir uma imagem, imagino se em vez
de um gostar houvesse ódio cego e desmedido!
Uma vez eu disse que o poder corrói o
bom senso, que deturpa os sentidos e nubla a percepção. Quem o perde acorda
como o jovem depois de festejar alguns dias em excesso. A ressaca nubla a
lembrança e ele não sabe direito o que fez ou com quem esteve, ou sabe, mas a
vergonha o impede de dizer. "Eu estava bêbado, perdão". "Eu te
chamei de ladrão, disse que você era desonesto, coloquei em você uma culpa que
você não tinha e nem me preocupei com isso. Eu estava no poder, perdão!"
Mas assim como o efeito do álcool
passa, os efeitos do poder também. As pessoas – antes súditos leais e submissos
- não mais o procuram. A presença indispensável passa a ser dispensável, a voz
antes inquestionável nem sequer é desejada para ser ouvida, afinal, o Rei está
morto, vida longa ao Rei! Começa a se perceber que os amigos do dinheiro são
amigos do dinheiro e que o amor que lhe era devotado não era dirigido a pessoa
em si, mas ao que ela podia fazer. Mundo injusto esse, não?
Onde estão os companheiros? Aqueles que
disseram que você inventou a roda. Que você era a peça mais importante do
tabuleiro e sem você nada poderia existir? As filas intermináveis de pessoas
para o beijo das mãos, os concelhos e os pedidos? Os convites infindáveis e
todas aquelas reverências? E agora, José?
A festa acabou,/a luz
apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou, e agora, José? e agora, você?
Não tenho as respostas que gostaria de
ter, e as que tenho não são as que você gostaria de ouvir. Hoje o mundo, em sua
essência, continua igual ao que sempre foi. Não há nada de novo sob o Sol. Algumas
pessoas continuam a tratar as outras como objetos, peças em seu tabuleiro de
jogos pelo poder. Ainda existem aqueles que acreditam em dias melhores, que não
mudam de opinião por causa de trinta dinheiros, cargos ou presidências. Ainda
existem os que querem o bem, o justo e o correto e estes parecem se
multiplicar, graças a Deus. Para estes a desculpa do bêbado do dia seguinte não
cola. Eles não acreditam que os fins podem justificar os meios e que o dinheiro
a tudo e a todos pode comprar. É a eles que me dirijo repetindo as palavras de
Chaplim no discurso do grande ditador:
"Vamos lutar por um mundo novo! Um
mundo decente, que vai dar ao homem uma chance de trabalhar, que vai dar futuro
a juventude e a segurança aos idosos. Prometendo isso, os cruéis vieram ao
poder, mas eles mentiram, não cumpriram sua promessa, eles nunca vão. Ditadores
libertam eles mesmos, mas eles escravizam as pessoas. Agora vamos lutar para
cumprir essa promessa". E para os que motivaram esse post só
posso terminar com o grande menestrel, o mestre Chico Buarque:
Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro
dia
Inda pago pra ver/ O jardim florescer/ Qual
você não queria
Você vai se amargar/ Vendo o dia raiar/
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há
de vir/ Antes do que você pensa
Emerson Luiz
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