sábado, 23 de janeiro de 2010

O Soneto de Dorian

Ele tomou o bloco de notas e começou a escrever. Estava sentado, como de costume, no banco próximo a figueira, de onde podia avistar os transeuntes que caminhavam no parque. Buscava inspiração para um soneto, quem sabe uma pequena canção.
Olhou as folhas que se desprendiam das árvores e bailavam rumo ao solo. O desenho das sombras das árvores que se mesclavam com as sombras das pessoas e formavam novas imagens, deixando a imaginação livre como as pranchas roshark. Ouviu o cantar dos pássaros e o som daqueles que corriam e caminhavam preocupados com a estética ou a saúde, ou quem sabe: ambos.
Observou tudo isso, mas não viu beleza. As vezes ocorre, pensou, buscamos tanto o belo e o contamos de tal forma que nos viciamos e ficamos anestesiados. Perdemos o contato com o milagre diário.
Foi então que a viu de longe, caminhando como quem baila, graciosamente, seguindo o ritmo de uma canção inaudível, mas perceptível ao espírito. Cabelos soltos, movimentados por uma leve brisa, e um sorriso capaz de ofuscar o brilho do sol. E enquanto ela se aproximava, ele foi capaz de se encantar com tudo a sua volta, desde folhas caindo ao caminhar de um casal de velhos. E quando ela o beijou, como fazia nesses encontros matutinos, sorriu para si mesmo. O amor é a mais poderosa força que temos, e a que menos exploramos. Ele escreveria o soneto, mas não naquele momento.
A vida é curta. O mundo não vai lembrar dos meus sonetos, mas lembrarei que amei e fui amado nesta vida e além, e isso é mais do que se pode sonhar.

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