segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Venturosa Oficial e a Venturosa Real.




Ariano Suassuna por anos defendeu a tese de que existem dois brasis: o Brasil real e o Brasil oficial. No Brasil real pessoas como José da Silva, 23 anos, acorda todos os dias antes das cinco para pegar no batente. No Brasil real ele trabalha muito, recebe bem menos do que merecia e é obrigado a sustentar a si mesmo e a auxiliar no sustento dos irmãos, uma dura realidade que não permite que ele estude ou sonhe com grandes realizações. Nesse Brasil o fato de José da Silva, 23 anos, ter nascido negro faz dele vítima de constantes preconceitos.
O Brasil oficial é aquele apresentado aos turistas estrangeiros e que é visto todos os dias no horário nobre da rede Globo de televisão. O Brasil dos ricos que caminham na orla do Rio de Janeiro, habitam os Jardins de São Paulo e até o mais pobre dos pobres possui casa própria e não sofre com os serviços públicos de saúde, educação, com transportes coletivos ou com a (falta de) segurança pública.
Então há os dois brasis (o real e o oficial) e duas venturosas: a real e a oficial.
Na Venturosa oficial, aquela que foi exibida durante toda uma campanha política a cidade é um oásis no meio do deserto. Mais de 600 barragens construídas, mais de uma dezena de PSF’s, escolas reformadas e funcionando em pleno vapor, serviços de saúde precisos e de ótima qualidade e o melhor governo do Estado de Pernambuco.
Eu moro na outra Venturosa. Habito na Venturosa real. Aquela onde sofremos muitas vezes com a ausência de médicos, a mesma onde um morador do sítio Campo Grande tem que se deslocar mais de oito quilômetros para ser atendido no PSF localizado no Sítio Azevém. Moro na Venturosa em que muitas ruas têm esgoto a céu aberto, onde há uma escassez de recursos hídricos mesmo com as tais 600 barragens, sim, 600 barragens e não barreiros, seiscentas BARRAGENS! Moro nesta Venturosa onde pagamos taxas de iluminação pública para ter postes apagados durante a noite, essa que precisa urgentemente de revisão.
Na Venturosa Oficial não há espaço para mim. Os questionamentos que faço incomodam seus habitantes. Durante o pleito desse ano fui “homenageado” em duas das músicas da campanha do candidato e prefeito eleito Ernandes Albuquerque. Deram-me a alcunha de “blogueiro revoltado que o povo não quer saber” e em outra num trecho célebre me mandaram embora da cidade direto para o Japão, ou de mula ou cavando buraco no chão. Sinto desapontar o autor da música e o coordenador que aprovou sua veiculação. Nem estou revoltado nem irei para o Japão. Resido na Venturosa real e vou continuar me esforçando para que ela melhore por meio da conscientização dos seus cidadãos e da educação dos seus jovens.
O blogueiro que vos escreve prefere chamar a si mesmo de cidadão indignado e promete continuar com seu trabalho, incansavelmente e insistentemente, pelos próximos quatro anos. Se quiserem mandar-me ao Japão exijo passagem de primeira classe, IDA e VOLTA– mas que esta não seja comprada com dinheiro dos cofres públicos – e desde já aviso: a internet lá é bem mais rápida!

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