Ariano
Suassuna por anos defendeu a tese de que existem dois brasis: o Brasil real e o
Brasil oficial. No Brasil real pessoas como José da Silva, 23 anos, acorda
todos os dias antes das cinco para pegar no batente. No Brasil real ele
trabalha muito, recebe bem menos do que merecia e é obrigado a sustentar a si
mesmo e a auxiliar no sustento dos irmãos, uma dura realidade que não permite
que ele estude ou sonhe com grandes realizações. Nesse Brasil o fato de José da
Silva, 23 anos, ter nascido negro faz dele vítima de constantes preconceitos.
O
Brasil oficial é aquele apresentado aos turistas estrangeiros e que é visto
todos os dias no horário nobre da rede Globo de televisão. O Brasil dos ricos
que caminham na orla do Rio de Janeiro, habitam os Jardins de São Paulo e até o
mais pobre dos pobres possui casa própria e não sofre com os serviços públicos
de saúde, educação, com transportes coletivos ou com a (falta de) segurança
pública.
Então
há os dois brasis (o real e o oficial) e duas venturosas: a real e a oficial.
Na
Venturosa oficial, aquela que foi exibida durante toda uma campanha política a
cidade é um oásis no meio do deserto. Mais de 600 barragens construídas, mais
de uma dezena de PSF’s, escolas reformadas e funcionando em pleno vapor,
serviços de saúde precisos e de ótima qualidade e o melhor governo do Estado de
Pernambuco.
Eu
moro na outra Venturosa. Habito na Venturosa real. Aquela onde sofremos muitas
vezes com a ausência de médicos, a mesma onde um morador do sítio Campo Grande
tem que se deslocar mais de oito quilômetros para ser atendido no PSF
localizado no Sítio Azevém. Moro na Venturosa em que muitas ruas têm esgoto a
céu aberto, onde há uma escassez de recursos hídricos mesmo com as tais 600
barragens, sim, 600 barragens e não barreiros, seiscentas BARRAGENS!
Moro nesta Venturosa onde pagamos taxas de iluminação pública para ter postes
apagados durante a noite, essa que precisa urgentemente de revisão.
Na
Venturosa Oficial não há espaço para mim. Os questionamentos que faço incomodam
seus habitantes. Durante o pleito desse ano fui “homenageado” em duas das
músicas da campanha do candidato e prefeito eleito Ernandes Albuquerque.
Deram-me a alcunha de “blogueiro
revoltado que o povo não quer saber” e em outra num trecho célebre me mandaram
embora da cidade direto para o Japão, ou de mula ou cavando buraco no chão.
Sinto desapontar o autor da música e o coordenador que aprovou sua veiculação.
Nem estou revoltado nem irei para o Japão. Resido na Venturosa real e vou
continuar me esforçando para que ela melhore por meio da conscientização dos
seus cidadãos e da educação dos seus jovens.
O
blogueiro que vos escreve prefere chamar a si mesmo de cidadão indignado e
promete continuar com seu trabalho, incansavelmente e insistentemente, pelos próximos
quatro anos. Se quiserem mandar-me ao Japão exijo passagem de primeira classe,
IDA e VOLTA– mas que esta não seja comprada com dinheiro dos cofres públicos –
e desde já aviso: a internet lá é bem mais rápida!
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