quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Até onde vai o preconceito?

A questão passou a me tirar o sono de uns dias pra cá. Como muito brasileiros cresci acreditando na “cordialidade” do nosso povo, na nação erguida pela “união das três raças” tão belamente ilustradas no meu velho livro de estudos sociais.

Cresci com a grande “complexo de vira-lata”, ao som de guitarras e baterias, gritos distorcidos e muita coca cola, assistindo novela e aprendendo que meu papel era não questionar o título de pais do futebol, me orgulhar por São Paulo ser o coração econômico do Brasil e pelo nosso cartão postal ser uma cidade maravilhosa.

Hoje ao me aproximar dos trinta anos questiono-me bem mais a respeito desse modelo de país e as formalidades ideológicas não me encantam mais. Pouco a pouco o cotidiano me fez despertar contra a vontade dessa letargia que é o Brasil cordial. Uma vez ouvi o Ariano Suassuna falar numa de suas palestras da existências de dois brasis: o oficial e o real.

O Brasil oficial é composto apenas pelo Sul-Sudeste, especificamente bairros nobres, grandes propriedades rurais, belas praias e pontos turísticos, sem favelas ou cracolândias. O Brasil real, esse todo marginalizado, formado por várias regiões geoeconômicas, repleto de pardos, negros, índios, mães solteiras, gays e tantos grupos minoritários que lutam pelo acesso mínimo a cidadania.


Ariano notou que sempre que o Brasil real tentou se organizar foi massacrado pelo Brasil oficial. Foi assim em Canudos, Palmares, com a Confederação do Equador, com a Balaida, a Conjuração Baiana e tantas outras que com muito sacrifício entram nos livros didáticos. O Brasil real escolheu um presidente e foi taxado de burro, formado por uma massa de despossuídos e alienados. Depois, votou-se pela continuidade de um projeto político e mais uma vez o Brasil oficial se levantou espalhando ódio!


Mayara Petruso é produto de um sistema que perdura desde o Império, atravessando a República Velha do café paulista e do leite mineiro, apoiando a repressão dos direitos por um regime ditatorial e contaminando todas as esferas políticas após a reabertura. Num momento infeliz a jovem expôs o que se esconde por trás de toda a nossa cordialidade.


A jovem universitária que cursa direito (!!!) foi precedida por nomes como Boris Casoy (a humilhar garis que desejavam feliz natal) Eliane Cantanhêde (que se referiu aos filiados do PSDB como massa cheirosa, colocando a imensa maioria de brasileiros indiretamente na categoria de massa mal-cheirosa) e agora, tem mais um ilustre seguidor. O repórter (?) da RBS – filiada da rede Globo – Luís Carlos Prastes é a epítome do preconceito de classe, gênero, etnia, etc.

O repórter (?) faz uso de uma eloqüência que deixaria Adolf Hitler emocionado para colocar a culpa dos acidentes de trânsito na popularização dos automóveis promovida por esse maldito governo que trata pobre como se fosse ser humano. O termo “desgraçado” foi usado a exaustão para disseminar a fúria deste culto cidadão.

Ele é o homem cordial. O brasileiro culto, branco, respeitoso das diversidades, desde que aqueles que pertencem as classes menos favorecidas permaneçam à margem da sociedade sem exigir os mínimos direitos inerentes a pessoa humana. O homem cordial que respeita a três raças, desde que negros sejam manobristas e faxineiros e os índios se apressem a tornarem-se extintos.

Até quando essa hipocrisia, meu Deus?

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