terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Para quê serve mesmo?




Os gregos nos legaram a filosofia. Os hebreus a religião monoteísta. Os habitantes do crescente fértil a astronomia, a matemática e o primeiro conjunto de leis escritas. Os egípcios aprimoraram tudo isso, construíram as pirâmides e ergueram um Império. Os Romanos vieram e nos deram o direito, a religião de um Deus uno e trino, a crença no Deus que se fez homem, morreu e ressuscitou, a língua e tantas, tantas outras tradições e conhecimentos.
Roma ruiu a Igreja permaneceu. Então os europeus deram uma pausa nas descobertas científicas para tentar viver o céu na terra. Depois de 1000 anos perceberam que isso não deu muito certo.
Mas antes disso os árabes vieram, dominaram boa parte da Europa, trouxeram o uso de equipamentos modernos, difundiram os algarismos indos-arábicos, incluindo o zero, resgataram o estudo das obras de Aristóteles e nos legaram um monte de palavras e costumes igualmente legais. Depois os árabes foram expulsos, vieram as cruzadas, ou foi o contrário? Tanta água correu por baixo dessa ponte! Peste Negra, crescimento comercial e urbano, renascimento, grandes navegações, ufa!
E nisso nem vimos o que ocorreu na índia e na China, sua filosofia, cultura e tecnologia! Sim, foram os chineses que inventaram o papel e a primeira imprensa, bem antes do Gutenberg, que na verdade inventou os tipos móveis. E nem falamos nos reinos africanos e nas sociedades da América pré-colombiana.
O pensamento humano foi mudando sempre. A Terra deixou de ser quadrada e centro do universo. Reis deixaram de ser “presença de Deus” e nós continuamos a caminhar.
Ocorreram revoluções industriais, duas guerras mundiais, uma guerra fria, o homem foi até a lua, inventaram o cinema e só na segunda metade do século XX mulheres e negros foram encarados como seres humanos normais e dotados de direitos. E olhe que falo apenas do que está escrito, porque na atualidade ainda encontramos muita desigualdade.
A geração dos seus avós viram o homem pisar na lua. Teus pais assistiram o fim da ditadura no Brasil e a queda do Muro de Berlim.
Nós assistimos a inovação tecnológica nos permitir coisas que aos olhos dos gregos pareciam milagres. Diante dos egípcios seríamos deuses vivos. Nos comunicamos com o mundo todo de forma instantânea, somos capazes de arquivar toda um biblioteca em um aparelho que cabe na palma da mão. O que Gutenberg diria se soubesse que baixamos livros que nem lemos, e que “fazemos pesquisa” apenas pressionando algumas teclas? Já imaginou a cara de Darwin quando visse a ovelha Dolly? E Copérnico e Galileu, qual seria a reação ao saber que Plutão não é mais planeta? Júlio Verne escreveu a volta ao mundo em 80 dias, nós conseguimos fazer isso em pouco mais de 20 horas.
Mas será que estudar História só serve para que eu saiba falar sobre tanta coisa de forma superficial? Será que é só para aprender sobre o passado?
Alguns índios Tupinambás poderiam achar estranho se soubessem que temos conhecimento para produzir toda a comida que precisamos e que um terço do mundo passa fome enquanto quase metade é obeso. Aristóteles não conseguiria desenvolver uma lógica para um mundo capaz de desviar o curso de rios estar envenenando a Terra a tal ponto de contribuir para catástrofes climáticas cada vez mais constantes.
A História não é o estudo do passado. Ou melhor, não é apenas isso. Estudamos História para compreender quem somos, como chegamos até aqui e o que podemos fazer para sermos autores de nossa existência.
Estudamos História para questionar e interagir, para moldar um mundo novo, quem sabe com menos problemas que o antigo. O historiador Marc Bloch, fuzilado pelos nazistas, em escritos publicados postumamente, procurou responder a uma questão levantada pelo seu filho: Pai, para quê serve a História?
Num primeiro momento, Capítulo I do livro Apologia da História ou o ofício do historiador: A História, os homens e o tempo, traz em seu título o que o autor pretende representar: o homem quanto sujeito da sua história. Não mais uma História atrelada apenas aos fatos, às datas, aos relatos. Busca-se a partir de então, uma História que consiga compreender as relações que se deram através dos fatos, suas problematizações e seu contextos históricos. Indicando dessa maneira que o seu objeto não era o passado, mas o homem, mais precisamente os homens no tempo. Porém nunca se esquecendo de aliar o passado com presente, uma vez que as indagações do presente são o que fazem o historiador voltar-se para o passado.
Indagações que podem se repetir por séculos sem encontrar uma resposta: Quem somos nós? De onde viemos? E outras que podem estar mais próximas da nossa realidade: Houve alguma espécie que agrediu tanto o meio ambiente a ponto de colocar em risco a própria existência? Já existiram movimentos terroristas antes? O que torna a paz entre judeus e mulçumanos tão difícil?
Agora que chegamos próximos do final desse texto e do início de nossa discussão inicial, para quê serve a História mesmo?

Emerson Luiz Galindo Almeida
Professor do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde e da Rede Estadual de Ensino

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