O Impeachment de Dilma
e as cebolas do Egito. O Brasil se tornou uma nação que tem saudade dos seus
opressores?
Vejo crescer nas redes
sociais o compartilhamento de mensagens favoráveis ao impeachment de Dilma
Rousseff. Muitas vezes as pessoas que compartilham esses memes (muitas vezes
desrespeitosos) imaginam que no caso da renúncia da presidente eleita, o
senador derrotado Aécio Neves seria sagrado o novo governante do Brasil. Eles
não sabem quem é Michel Temer nem qual a função de um vice-presidente. O princípio
jurídico de que todo cidadão pode ser considerado inocente até que haja provas
em contrário não se aplica à Dilma! Acusaram Dilma, então, para eles, só pode
ser verdade!
Dilma estaria por trás
da seca em São Paulo, dos ataques terroristas do 11 de setembro, das bombas de
Hiroshima e Nagasaki e, claro, de todos os erros cometidos no Brasil desde que
Cabral aportou nessas terras e das pragas do Egito! Os escândalos de FHC e sua compra de votos para a
reeleição, os desvios do metrô de São Paulo, as privatizações criminosas que
enriqueceram políticos do PSDB, isso nada afetou o Brasil, afinal, não eram
escândalos do PT, de Lula ou Dilma!
Perdoem-me pela ironia,
mas as vezes ela se faz preciso para acordar os que ainda dormem. O que estamos
vendo não é a indignação contra os erros de membros do PT, é uma tentativa de
golpe de Estado. Três famílias controlam mais de 60% de nossa mídia e escolhem
o que é pauta dos jornais e como o povo deve ser informado. As contas de
brasileiros na suíça, provavelmente produto de desvios e sonegações não está na
pauta dos grandes jornais. A greve de trinta mil servidores do Paraná, um
estado quebrado pela gestão do tucano Beto Richa, também não.
Os que estão embarcando
nessa onda golpista se assemelham com aqueles que marcharam pela família e
apoiaram o golpe militar de 1964. Mas indo mais atrás na história humana,
vejo-os compartilhar do mesmo complexo de parte do povo hebreu após saírem do
Egito. Não, não vou comparar Lula a Moisés nem Dilma a Aarão e o PT está longe
de ser uma entidade religiosa. Mas tal qual o povo hebreu, o povo brasileiro
experimentou a liberdade na letra e na prática, teve acesso a escolas,
universidades, emprego, renda e bens de consumo. Pôde viajar, empreender e começar
a andar de cabeça erguida. Foi um dos últimos povos do planeta a sentir os
efeitos da greve crise econômica mundial e isto foi o suficiente para sentir
saudade das cebolas que comiam quando eram escravos de Faraó.
Doze anos longe das
correntes neoliberais que condenavam a nação à fome crônica, desemprego e
analfabetismo, duras realidades que faziam a madame sentir-se melhor por poder
comprar produtos exclusivos e tratar seus empregados como as sinhás faziam com
os escravizados em suas senzalas.
Há casos piores. Vejo
pessoas com menos de trinta anos pedindo a volta da ditadura! Preferem viver em
um regime ditatorial a encarar que seu direito de escolha não é maior que o de
outrem e que o projeto que defendiam não saiu-se vitorioso. Não querem o
debate, querem o “direito” de torturar e calar que pensa diferente. E ainda
chamam de burros os que argumentam em sentido contrário.
Não podemos regredir,
ter saudades dos maus tempos e desejar as cebolas e as chicotadas nas costas
dadas por Faraó. Já passa da hora dos brasileiros reagirem as flores do
fascismo que têm brotado em nosso jardim. Devemos sair às ruas não para negar a
política e apoiar um golpe, mas para, pacificamente, defender a democracia.
Emerson Luiz
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