terça-feira, 3 de julho de 2012

Crônica


Todos nós somos prisioneiros dos nossos sonhos, mas de que sonhos?


“E
u tenho um sonho”. Assim falou o reverendo Martin Luther King Jr. para as milhares de pessoas concentradas em Washington, capital dos Estados Unidos, para reivindicar seus direitos civis. Uniram-se contra a segregação racial que tornava os negros americanos uma sub-raça dentro do seu próprio país. Motivado por um forte amor à justiça e a liberdade que transborda dos escritos bíblicos o pastor batista Luther King Jr. lutou incansavelmente e banhou com seu sangue essa luta.
Contemporâneo dele, o ex-beatle John Lennon compôs uma ode a paz. Em tempos de turbulência gerados pela Guerra Fria que se desdobrava nos conflitos da Coreia e do Vietnã, Lennon convidada a todos a imaginarem um novo modelo de sociedade, onde não houvesse nada pelo que matar ou morrer. Onde todos convivessem como irmãos. “Você pode achar que sou um sonhador, mas eu não sou o único”.
Raul Seixas frisava em mais uma de suas ótimas canções: “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. O que esses três homens tinham em comum? O que eles têm em comum conosco? Todos, de uma forma ou outra, foram capazes de fazer uma leitura de mundo e sonhar com algo melhor, algo que tocasse a todos.
Faz parte do ser humano desejar superar as dificuldades que lhe são impostas. Essa é a dinâmica da vida. Mas enquanto existem aqueles que são capazes de se doar pelo sonho de muitos, existem os sonham apenas com melhorias para sua vida, e defendem esses sonhos com unhas e dentes, com toda sua força, alma e entendimento. Mascaram suas ambições pessoais como sendo um serviço para a maioria e repetem tanto isso que passam a acreditar, parcialmente no que dizem. E quando falam: “Quero o melhor para todos” deveriam estar dizendo: “Quero o melhor para mim”.
“Todos nós somos prisioneiros dos nossos sonhos”, disse o poeta. Dos bons e dos maus sonhos também. Até onde você iria para defender os seus? Há os que são capazes de doar a própria vida para que o sonho de um mundo melhor e uma sociedade mais justa se concretizem: Jesus, Gandhi, Madre Tereza, Martin Luther King Jr, Irmã Dorothy, Chico Mendes, Zilda Arns e tantos e tantos outros.
Mas também existem aqueles que são capazes de matar e destruir para ver realizados seus sonhos, que de tão egoístas deveriam ser chamados de ambições pessoais. No caminho que escolhem para atingir destaque, sucesso ou bens materiais são capazes de tudo, desde calúnias para denegrir a imagem alheia até os mais aberrantes casos de violência. Psicopatas sociais que são capazes de teatralizar suas reações e emoções, distorcer a realidade para que lhe favoreça e arruinar a vida de quem quer se coloque entre eles e o objeto do seu desejo.
É hora de rever nossos sonhos, reavaliar nossos conceitos e nos indagar sobre nossas motivações. Precisamos nos unir em torno de sonhos coletivos: a superação da miséria, um modelo social mais justo, a inclusão de todos nas benesses da sociedade. Para isso é necessário também rever quem representa os nossos ideais. Luiza Erundina deu um exemplo à nação ao se recusar a compor a chapa de Fernando Haddad. O apoio de Paulo Maluf ao candidato petista foi de encontro à ética dela. O poder pelo poder não é justificativa.
Todos os políticos calçam quarenta? Erundina mostrou que não. O Brasil precisa de mais exemplos como este. De que a dignidade não tem preço e que apoios não devem ser comprados. Que o sonho de governar por si só não basta. O bom político é antes de tudo um servidor do povo que ele representa, dos  interesses do povo e não da vontade de um grupo de pessoas.
O Brasil nunca será o pais que deseja ser sem que antes nós, os eleitores, sejamos capazes de exigir que os nossos representantes sonhem com melhorias para  a nossa sociedade e não para a seleta classe social da qual fazem parte. A manutenção do poder por um grupo, como no caso de São Paulo, não pode ser confundida com a vontade do povo.
O povo quer mais que um partido, um povo quer saúde, educação, cultura, segurança e a garantia dos seus direitos. O povo, o coletivo de pessoas, sonha com isso. E por esse sonho, sim, vale a pena se dedicar.

Professor Emerson Luiz.

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